Cultura e Entretenimento • 15:02h • 25 de novembro de 2025
Vídeos de 15 segundos, impactos reais: o efeito BookTok na formação de leitores
Comunidade literária do TikTok impulsiona vendas, inspira estudantes e pode aproximar escolas do universo digital dos jovens
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da EDB Comunicação | Foto: Arquivo/Âncora1
No ritmo acelerado das redes sociais, uma tendência inesperada ganhou força: o BookTok, comunidade do TikTok dedicada a livros, tem influenciado hábitos de leitura e transformado recomendações de poucos segundos em fenômenos editoriais globais. O impacto, que começou com jovens comentando suas obras favoritas, hoje movimenta o mercado literário, estimula debates e reaproxima estudantes do prazer de ler.
Segundo dados da NPD BookScan, as indicações feitas no BookTok foram responsáveis por mais de 30% do crescimento das vendas de ficção juvenil nos Estados Unidos desde 2021. No Brasil, o cenário é semelhante. Editoras relatam aumentos impressionantes em livros que viralizam na plataforma: caso da Intrínseca, que registrou 2553% de crescimento para o título “Amor & Gelato” e 1200% para “Três”, de Valérie Perrin.
Mas o fenômeno vai além dos números. Para Andréa Piloto, diretora pedagógica da Escola Vereda, o verdadeiro diferencial do BookTok é a identificação. “Os jovens se sentem parte de uma comunidade. Eles recomendam, pedem dicas, compartilham sentimentos. A leitura se torna social, viva e conectada à rotina deles”, explica.
Na prática, o BookTok utiliza a própria linguagem das redes — vídeos curtos, emoção, humor e sinceridade — para tornar livros mais atraentes. O resultado? Um movimento que já ajudou milhares de jovens a redescobrir a leitura por prazer, algo que escolas e famílias buscam incentivar há anos.
Da tela para a sala de aula
Dados do relatório 2024 do National Literacy Trust mostram que crianças e adolescentes que leem no tempo livre têm o dobro de chances de atingir níveis elevados de proficiência em leitura (34,2% contra 15,7%). Além disso, cerca de 26% relatam sentir-se mais confiantes.
Isso ocorre porque a leitura exerce forte impacto sobre áreas cerebrais ligadas à memória, linguagem e pensamento crítico. “Quando a escola reconhece o que mobiliza o interesse dos alunos e incorpora isso ao ensino, cria conexões poderosas. Trazer o BookTok para o ambiente escolar — seja como projeto, debate ou inspiração — pode ampliar o engajamento”, afirma Andréa.
A curadoria espontânea feita pelos próprios jovens também ajuda a diversificar o repertório literário: autores independentes ganham espaço, temas atuais são discutidos e novas narrativas se tornam parte das leituras recomendadas entre pares. “É saudável e necessário. A leitura precisa refletir a vida, as dores e os desejos dessa geração”, complementa a especialista.
Do consumo à criação: ideias para educadores
Para aproximar leitura e tecnologia, Andréa sugere que escolas adotem estratégias inspiradas no BookTok:
- Debates a partir de vídeos virais;
- Clubes de leitura híbridos;
- Desafios de resenhas curtas;
- Produção de vídeos como exercício de síntese e argumentação;
- Indicação de obras escolhidas pelos próprios alunos.
“O segredo é transformar o jovem em protagonista. Em vez de consumir passivamente, ele cria, analisa e se posiciona. Isso é, essencialmente, educativo”, finaliza a diretora.
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