Saúde • 10:49h • 30 de junho de 2025
USP pesquisa nova abordagem para tratar a apneia do sono
Estudo realizado em animais mostra que um medicamento para tratar obesidade genética também melhora a respiração durante o sono
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Governo de SP

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP descobriram que um remédio já aprovado para tratar formas raras de obesidade também pode melhorar a respiração durante o sono. O estudo, realizado em parceria com instituições dos Estados Unidos e publicado na revista Journal of Clinical Investigation, abre caminho para novas opções terapêuticas contra distúrbios respiratórios como a apneia do sono e a síndrome da hipoventilação por obesidade — especialmente em pacientes que não se adaptam ao uso do aparelho CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas).
Esses distúrbios estão ligados a prejuízos importantes na qualidade de vida, como sonolência diurna, além de maior risco de doenças cardiovasculares, metabólicas e aumento da mortalidade. Atualmente, o CPAP é o tratamento mais utilizado, mas cerca de metade dos pacientes abandona o uso devido ao desconforto.
Em busca de alternativas, a equipe liderada pelo professor Mateus Ramos Amorim, da USP, em colaboração com o Dr. Vsevolod Y. Polotsky, da The George Washington University, avaliou os efeitos da setmelanotida em camundongos obesos. O medicamento, aprovado pela FDA para tratar a obesidade monogênica, é um agonista do receptor MC4R — envolvido no controle do apetite e do gasto energético. Nos testes, além de contribuir para a regulação do peso, a droga melhorou significativamente a respiração durante o sono, mesmo sem perda de peso.
Atuação no sistema nervoso
Os pesquisadores identificaram que a setmelanotida age diretamente no cérebro, ativando neurônios no núcleo retrotrapezoide (RTN) — uma área do tronco encefálico essencial para o controle da respiração. Essa região detecta o excesso de gás carbônico no sangue e ajusta o ritmo da respiração para compensar.
Ao ativar neurônios MC4R+ (que expressam o gene do receptor), o medicamento aumentou a ventilação, reduziu episódios de apneia e melhorou a oxigenação nos animais. “Isso mostra que os efeitos da droga vão além do emagrecimento, atingindo diretamente os circuitos cerebrais que regulam a respiração”, explica Amorim. Camundongos submetidos apenas à restrição alimentar perderam peso, mas não apresentaram os mesmos ganhos respiratórios.
Diferença entre machos e fêmeas
O estudo também revelou respostas diferentes entre os sexos. Nos machos, a setmelanotida aumentou a sensibilidade à hipercapnia (excesso de gás carbônico no sangue) e reduziu as apneias. Já nas fêmeas, o aumento da ventilação esteve mais relacionado ao metabolismo elevado do que à resposta ao gás carbônico. Segundo Amorim, isso pode indicar um “efeito teto” nas fêmeas, que já mantêm uma função respiratória mais preservada. O achado reforça a importância de considerar o sexo biológico no desenvolvimento de tratamentos personalizados.
Próximos passos
Apesar dos resultados animadores, os testes ainda se restringem a modelos animais. Para que a setmelanotida possa ser usada no tratamento de distúrbios respiratórios em humanos, serão necessários novos estudos que comprovem sua eficácia e segurança.
As próximas etapas incluem explorar outros mecanismos de ação no cérebro, testar o medicamento em longo prazo e iniciar ensaios clínicos com pessoas. Os testes clínicos deverão definir a dosagem ideal, possíveis efeitos colaterais e os benefícios reais para a respiração.
“Melhorar a respiração de quem sofre com apneia ou hipoventilação pode trazer ganhos imensos para a saúde pública, reduzindo internações e complicações, além de aumentar a qualidade e a expectativa de vida”, conclui o pesquisador.
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