Saúde • 19:48h • 25 de janeiro de 2025
Tragédia escondida: jovens estão ingerindo solventes e produtos químicos em desafios online
Desafios virais incentivam jovens a consumir produtos letais; detergente e medicamentos vencidos estão entre os mais usados
Da Redação | Com informações da OPAS e OMS | Foto: Arquivo
Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o Comportamento de Saúde em Crianças em Idade Escolar (HBSC) revelou dados alarmantes sobre o uso inadequado de redes sociais e suas consequências para a saúde dos jovens. A pesquisa, que entrevistou cerca de 280.000 adolescentes de 11, 13 e 15 anos em 44 países, indicou que mais de um em cada dez adolescentes (11%) relataram dificuldades em controlar o uso das redes sociais, incluindo angústia ao ficarem desconectados ou restritos de usar suas contas. O estudo também revelou uma maior proporção de mulheres (13%) enfrentando esse problema em comparação com homens (9%).
Além disso, o levantamento destaca uma preocupante tendência entre os jovens de participar de "desafios" online, em que práticas perigosas para a saúde são incentivadas, muitas vezes com o objetivo de conquistar validação social. Esses desafios incluem a ingestão de substâncias como medicamentos não prescritos, produtos cosméticos com solventes e até substâncias domésticas, como aerossóis e produtos de limpeza. Esses comportamentos têm gerado sérios riscos à saúde, incluindo intoxicações e até mortes.
A análise de 2024 do Sistema Nacional de Dados de Toxicologia dos Estados Unidos (NPDS) mostrou que as práticas mais comuns associadas a esses desafios incluem a ingestão de cápsulas de detergente, canela e substâncias como difenidramina. Em um total de 2.169 casos analisados, 45% apresentaram efeitos moderados e 6,4% resultaram em efeitos graves à saúde. A pesquisa também indicou que as tentativas de suicídio associadas a esses desafios tendem a aumentar um ou dois meses após picos de buscas online sobre essas práticas.
Médico, Dr. André Ramalho alerta sobre os perigos dos desafios online e dá orientações para prevenção em entrevista ao Âncora 1
O estudo identificou que o grupo etário mais afetado são crianças de 10 a 12 anos, que têm maior acesso às redes sociais durante uma fase crítica de desenvolvimento. A média de idade em que as crianças recebem seu primeiro telefone celular foi recentemente citada como 11,6 anos, tornando-se um fator relevante para a exposição precoce a riscos de saúde.
O uso inadequado de substâncias químicas, como pesticidas, solventes e monóxido de carbono, pode gerar danos irreversíveis à saúde dos jovens, incluindo problemas respiratórios, cardiovasculares, mentais e neurológicos, além de aumento do risco de intoxicação e morte.
Entrevista com Dr. André Ramalho
Para esclarecer os riscos envolvidos e orientar os pais sobre como identificar sinais de intoxicação e prevenir esses comportamentos perigosos, conversamos com o Dr. André Ramalho, médico especializado em saúde pública e inovação digital.
1. Quais são os sinais iniciais de intoxicação por substâncias como aerossóis, produtos de limpeza ou medicamentos não prescritos, e como os pais podem identificar rapidamente um caso de envenenamento?
Dr. André Ramalho: "Os primeiros sinais podem ser alarmantes e visíveis rapidamente. Quando uma criança ou adolescente ingere substâncias perigosas, os sintomas mais comuns incluem náuseas, vômitos, tontura, e confusão mental. Também pode ocorrer sonolência ou dificuldade para respirar. Em casos mais graves, pode haver convulsões ou perda de consciência. Os pais devem estar atentos a mudanças bruscas no comportamento, à presença de cheiros químicos incomuns no hálito e a embalagens ou produtos fora do lugar. A rápida identificação e busca por atendimento médico são cruciais para salvar vidas."
2. Qual é a importância da educação e da prevenção para reduzir os danos causados por esses desafios perigosos e como os profissionais de saúde podem colaborar para aumentar a conscientização entre jovens e pais?
Dr. André Ramalho: "A educação é fundamental para evitar essas tragédias. Devemos garantir que jovens e pais compreendam os riscos dessas substâncias e saibam como se proteger. A conscientização dentro das famílias, aliada à orientação nas escolas e comunidades, pode reduzir significativamente o envolvimento dos jovens em desafios perigosos. Os profissionais de saúde têm um papel vital ao fornecer informações claras e acessíveis, não só em consultórios, mas também em espaços educativos, como escolas, centros comunitários e mídias sociais."
3. Como as equipes podem se preparar para enfrentar um desafio com nuances tão diversas que vão além da simples terapêutica médica?
Dr. André Ramalho: "Este tipo de emergência exige uma abordagem interdisciplinar. Os profissionais de saúde precisam atuar de forma integrada, considerando não só os aspectos médicos, mas também os sociais e psicológicos que envolvem os jovens. Isso inclui entender a pressão social e psicológica que leva os jovens a participar desses desafios. Ter uma visão mais ampla, com colaboração entre médicos, psicólogos, assistentes sociais e educadores, é essencial para uma resposta eficaz e para a prevenção de novos casos."
4. Quais são as principais medidas de prevenção que podem ser tomadas, tanto no nível familiar quanto escolar, para evitar que jovens se envolvam em desafios perigosos?
Dr. André Ramalho: "No nível familiar, o mais importante é criar um ambiente de comunicação aberta, onde os jovens se sintam à vontade para falar sobre suas experiências online. Os pais devem monitorar o uso das redes sociais, estabelecer limites claros e, principalmente, fomentar o diálogo. Nas escolas, é essencial que programas de conscientização abordem os riscos das substâncias químicas e os impactos psicológicos dos desafios online. A educação sobre o uso responsável da tecnologia e o incentivo a práticas saudáveis pode reduzir os riscos e salvar vidas."
Prof. Dr André Ramalho é médico, doutor e líder global em saúde pública e inovação digital voltada para a tomada de decisão em saúde. Combina expertise acadêmica, estratégica e prática para transformar sistemas de saúde e impactar comunidades em escala local e internacional. É pesquisador integrado do CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde no Porto em Portugal, Editor Acadêmico da PLOS One na Califórnia nos Estados Unidos e Gerente Médico Coporativo do CEJAM - Centro de estudos e pesquisas Dr João Amorim, em São Paulo.
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