Economia • 11:14h • 26 de agosto de 2025
Trabalhadores rejeitam baixos salários e jornada 6x1; comércio do Brás sofre com falta de mão de obra
Em 2024, mais de 7 milhões de trabalhadores pediram demissão no país. A maioria atuava no comércio, em jornadas exaustivas e com remuneração próxima ao salário mínimo. Empresários reclamam da escassez de mão de obra, mas especialistas apontam que o problema está nas condições precárias oferecidas
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da CUT | Foto: Roberto Parizotti (Sapão)

No último ano, mais de 7 milhões de brasileiros deixaram seus empregos, sendo 80% a 90% ligados ao comércio, com escala de seis dias por um e salários entre R$ 1.518 e R$ 2.277. Muitos desses vínculos eram informais, sem férias, 13º salário ou direitos trabalhistas.
O cenário preocupa setores como o de supermercados e lojas populares do Brás, em São Paulo, onde a prefeitura e a Associação de Lojistas (Alobrás) organizam um mutirão para preencher 10 mil vagas disponíveis. As oportunidades vão de cargos operacionais a administrativos e fabris.
Mas, segundo especialistas, a dificuldade em contratar não está ligada à falta de mão de obra, e sim às condições oferecidas.
“As pessoas estão menos dispostas a aceitar baixos salários e jornadas exaustivas. O mercado está mais favorável e os trabalhadores têm mais opções de escolha”, explica Marilane Teixeira, economista da Unicamp.
Juventude e empreendedorismo
Entre os jovens, cresce a rejeição ao modelo de trabalho precário. Muitos buscam alternativas, mesmo que instáveis, como o empreendedorismo. A economista alerta, no entanto, que a promessa de ganhos rápidos pode ser ilusória quando comparada à segurança de um emprego formal, que garante férias, 13º e benefícios.
Programas sociais e mercado de trabalho
Parte do empresariado culpa programas como o Bolsa Família pela dificuldade em contratar, mas Marilane discorda:
“Em alguns casos, a transferência de renda é mais vantajosa do que empregos de baixíssima remuneração. O problema não está no programa social, mas nas condições ruins oferecidas pelo mercado.”
Com a taxa de desemprego em 5,8% no segundo trimestre de 2025, a menor desde 2012, os trabalhadores têm mais poder de escolha. Isso pressiona setores que oferecem vagas em ambientes considerados desgastantes.
Debate sobre jornada de trabalho
A discussão sobre a redução da jornada também gerou reação de parte dos empresários, que alegam aumento de custos. Para a economista, no entanto, a mudança pode até beneficiar o setor:
“Se reduzir a jornada, será necessário contratar mais gente. Isso aumenta o consumo, inclusive dos próprios trabalhadores.”
Em meio à queda do desemprego e ao fortalecimento da renda, a pressão agora recai sobre os empregadores, que terão de repensar salários e condições de trabalho se quiserem manter seus quadros e atrair novos profissionais.
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