Saúde • 14:23h • 01 de maio de 2025
Tese premiada investiga impactos da produção de cana na saúde e no meio ambiente em Pernambuco
Tese premiada investiga como a produção de cana-de-açúcar impacta a saúde e o meio ambiente em comunidades da Zona da Mata de Pernambuco
Da Redação com informações da Fiocruz | Foto: Arquivo Âncora1

Uma tese de doutorado que analisou os impactos da monocultura da cana-de-açúcar na saúde e no ambiente da Zona da Mata de Pernambuco recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Teses 2024. O estudo foi conduzido pela sanitarista Renata Cordeiro Domingues, da Fiocruz Pernambuco, com base na abordagem da epidemiologia crítica.
A pesquisa se concentrou nos municípios de Água Preta, Aliança, Sirinhaém, Itambé e Goiana, e combinou análise de dados epidemiológicos com oficinas comunitárias. Entre os fatores estudados, estão a exposição a agrotóxicos, problemas respiratórios causados pela queima da palha da cana e condições precárias de trabalho.
Renata, que atua como pesquisadora colaboradora do Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho da Fiocruz, explicou que o trabalho, iniciado em 2018, enfrentou o desafio da pandemia. Durante os anos de isolamento, o contato com as comunidades foi suspenso e a pesquisa avançou com base em dados secundários. As visitas de campo e atividades presenciais só puderam ser retomadas em 2022, com a vacinação em massa.
A tese foi estruturada em três artigos científicos. O primeiro analisou as condições de vida nos territórios canavieiros, revelando desigualdade social, degradação ambiental e trabalho exaustivo, mas também formas de resistência como a agricultura familiar e a organização comunitária.
O segundo artigo tratou da exposição aos agrotóxicos, apontando casos de intoxicação aguda e crônica, câncer e doenças metabólicas entre os trabalhadores.
O terceiro artigo investigou o impacto das queimadas na saúde respiratória, com foco em crianças menores de cinco anos e idosos. Os dados mostraram aumento nas internações por doenças respiratórias nas regiões onde a queima da cana é comum.
Os relatos das comunidades foram essenciais para compreender os efeitos diretos dessas práticas. Renata destacou a gravidade da situação: “Há famílias que precisam subir a serra para escapar da fumaça. Quando voltam, encontram as casas cobertas de fuligem.”
Segundo ela, as queimadas ocorrem por cerca de oito meses por ano, deixando apenas quatro meses de alívio para os moradores.
Além dos danos à saúde, a pesquisa também mostrou a precarização dos serviços públicos nas áreas afetadas, como saneamento, saúde, educação e segurança. A colheita manual da cana, geralmente feita após a queima da palha, é exaustiva e remunerada por produtividade. Um cortador pode chegar a cortar até 12 toneladas por dia, enfrentando riscos como desidratação, dores musculares, intoxicação e até mutilações.
Renata defende que o planejamento de políticas públicas precisa partir dos próprios territórios: “A formulação das soluções deve ser feita com quem vive ali, ouvindo a população e construindo os dados junto com ela.”
Agora, o desafio é transformar os diagnósticos em ação: “Precisamos reunir os diferentes atores, principalmente as comunidades, para construir um plano de ação efetivo”, conclui.
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