Ciência e Tecnologia • 10:16h • 10 de junho de 2025
Startup brasileira cria leite sem vaca e leva inovação à feira internacional em Paris
Future Cow apresenta tecnologia de fermentação de precisão na VivaTech, com apoio da Fapesp, e aposta na produção sustentável de proteínas do leite
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Future Cow/divulgação

Diante da escassez de recursos naturais e do aumento da demanda por alimentos, uma startup brasileira aposta em uma inovação que pode transformar o setor de laticínios: a produção de proteínas do leite sem o uso de vacas. Fundada em 2023, a Future Cow será uma das dez empresas convidadas pela Fapesp para representar a inovação brasileira no estande da USP na VivaTech 2025, uma das maiores feiras de tecnologia e startups da Europa, que acontece de 11 a 14 de junho, em Paris.
Com o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a Future Cow desenvolve proteínas como caseína e whey protein por meio de fermentação de precisão – tecnologia semelhante à usada na fabricação de cervejas e vinhos. A proposta é reduzir a dependência do leite de origem animal e oferecer alternativas mais sustentáveis à indústria de alimentos.
“A tecnologia já existe em outros países, e queremos mostrar que o Brasil também é capaz de liderar esse mercado”, afirma Leonardo Vieira, cofundador e CEO da empresa. “Na VivaTech, buscamos conexões com investidores e parceiros do setor de laticínios.”
Leite de laboratório, proteína real
A técnica consiste em identificar no DNA bovino os trechos responsáveis pela produção das proteínas do leite e transferi-los para organismos como leveduras. Esses microrganismos são cultivados em tanques de fermentação, onde se multiplicam e produzem as proteínas desejadas. Após filtragem e secagem, o material se transforma em ingrediente para uso industrial.
Inicialmente, a Future Cow vai produzir caseína – usada em queijos e iogurtes – e whey protein, bastante valorizada no mercado de suplementos. Outro alvo futuro é a lactoferrina, proteína difícil de obter: são necessários 10 mil litros de leite tradicional para extrair apenas 1 kg da substância.
“Não queremos substituir totalmente o leite animal, mas oferecer uma solução complementar. É uma forma de a indústria ampliar sua escala com menor impacto ambiental”, explica Vieira. Ele lembra que muitas grandes empresas já compram toda a oferta de leite disponível e não conseguem expandir a produção usando apenas métodos tradicionais.
Do laboratório à escala industrial
A startup começou suas atividades no Parque Tecnológico Supera, em Ribeirão Preto, e logo foi selecionada para o programa de aceleração de deeptechs do CNPEM. Agora, busca escalar a produção, etapa crítica para empresas de biotecnologia.
“Cerca de 95% das biotechs não sobrevivem à transição do laboratório para a fábrica. Com apoio técnico e infraestrutura adequada, acreditamos que vamos superar esse desafio”, afirma o CEO.
A fermentação de precisão também ajuda empresas a reduzirem sua pegada de carbono. Mesmo que substitua apenas 10% ou 20% do leite tradicional, o impacto ambiental já é significativo. “A agenda de descarbonização das grandes empresas também impulsiona essa tecnologia”, destaca.
Brasil pode liderar o futuro dos laticínios
Vieira ressalta que o Brasil reúne condições ideais para liderar o setor: abundância de água, açúcar e energia renovável, três insumos fundamentais para a fermentação. “Temos uma vantagem competitiva única. Se o país investir agora, pode assumir um papel estratégico no futuro da alimentação global.”
Estudos da Future Cow indicam que, em escala industrial (300 mil litros), o custo de produção das proteínas será menor que o da extração via leite tradicional. Para o CEO, esse será o momento da virada: “Se o Brasil estiver focado apenas na agricultura convencional, perderá a chance de liderar esse novo mercado”.
Próximos passos
A startup já possui uma cepa funcional e trabalha para aumentar a produtividade do processo. A expectativa é que os ingredientes estejam prontos para comercialização até o fim de 2026. A Future Cow não venderá produtos finais ao consumidor, mas sim ingredientes para a indústria.
“Nossa entrada no mercado será facilitada por isso. Vamos fornecer proteínas para empresas que já atuam no setor”, explica Vieira. Após o lançamento das primeiras proteínas, a empresa pretende expandir para outras variedades.
A equipe da Future Cow reúne competências complementares. Leonardo Vieira tem experiência em negócios, enquanto sua sócia, Rosana Goldbeck, é doutora em engenharia de alimentos pela Unicamp. “Essa combinação é um diferencial. É o tipo de conexão entre ciência e empreendedorismo que o Brasil precisa fortalecer para transformar conhecimento em inovação real”, conclui o CEO.
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