Variedades • 17:10h • 30 de abril de 2025
Smartphones não são o problema: a cultura digital é o que adoece nossos jovens, afirma especialista
Pesquisadora da FGV aponta que a verdadeira questão está no uso disfuncional da tecnologia e na cultura de exposição e humilhação nas redes sociais
Da Redação | Com informações da Compliance Comunicação | Foto: Divulgação

Em meio ao crescente pânico moral em torno do uso de smartphones por jovens, a pesquisadora Lilian Carvalho, PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, oferece uma perspectiva desafiadora: o problema não é o smartphone em si, mas a cultura digital disfuncional que se instalou nos últimos anos. Em suas palavras, a transformação cultural, e não a proibição de tecnologias, é a chave para lidar com os impactos digitais.
“A tecnologia é agnóstica. O problema não é o celular em si, mas o que estamos fazendo com ele. Temos que parar de procurar vilões fáceis e começar a repensar o nosso comportamento coletivo online”, afirma Lilian Carvalho.
A crítica ao discurso alarmista sobre redes sociais e saúde mental
A especialista refuta a ideia, popularizada pelo psicólogo Jonathan Haidt, autor do livro “A Geração Ansiosa”, que atribui o aumento de transtornos mentais entre jovens ao uso exagerado das redes sociais. Haidt aponta que o número de adolescentes diagnosticados com doenças mentais aumentou de 20% para 45% desde 2008, sem considerar, segundo Lilian, o contexto mais amplo. "Crianças em zonas de guerra, por exemplo, demonstram taxas de transtorno menores do que as apresentadas nos estudos de Haidt. Isso deveria nos fazer refletir sobre outras causas”, diz a pesquisadora.
Lilian acredita que as questões de saúde mental nos jovens não estão unicamente ligadas ao uso de smartphones, mas a um contexto maior de pressão social e da cultura digital que se formou em torno das redes sociais.
O impacto da cultura digital: da humilhação ao medo da exposição
Para Lilian, a verdadeira causa dos transtornos psíquicos está na cultura da humilhação constante e no medo da exposição pública. “Hoje, qualquer erro vira print, meme, julgamento público. Estamos criando adolescentes que têm medo de tentar, de se relacionar, de se arriscar — não por causa do celular, mas por medo da humilhação e do cancelamento”, explica.
A especialista destaca que a vigilância constante nas redes sociais, juntamente com a pressão por desempenhos ideais e a busca pela aprovação digital, têm causado um novo tipo de paralisia social. Dados do Fórum Econômico Mundial indicam que muitos adolescentes estão retardando marcos importantes da vida adulta, como tirar a carteira de motorista ou buscar a independência. “Eles estão se mantendo em zonas de conforto, com medo de viver. Isso não é causado pelo smartphone, mas pelo pânico coletivo que criamos nas redes”, observa.
O exemplo de Monica Lewinsky: a crueldade digital
Lilian cita o caso de Monica Lewinsky, cuja humilhação pública foi amplificada pela internet, como um exemplo do impacto negativo da cultura digital. Em sua palestra no TED Talks, Lewinsky descreve como a internet transformou a humilhação pública em um espetáculo. "Precisamos resgatar a civilidade no ambiente digital, criar uma nova cultura baseada em tolerância, empatia e privacidade", conclui Lilian.
Regulamentar ou educar? O desafio de lidar com a tecnologia de maneira responsável
Enquanto muitos países estão adotando políticas para proibir o uso de smartphones em escolas e limitar o acesso das crianças às redes sociais, Lilian alerta que essa abordagem é superficial e impulsionada pelo medo. "Estamos criando leis a partir do medo, não da ciência. A proibição pura e simples pode esconder problemas mais profundos", afirma. Para ela, o caminho é a educação para o uso responsável, promovendo a inteligência emocional e criando espaços digitais mais saudáveis.
A pesquisadora destaca que a verdadeira transformação necessária não está em desligar os aparelhos, mas em reconectar as pessoas com empatia, senso crítico e generosidade nas interações online. "Essa é a verdadeira transformação de que precisamos", conclui.
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