Variedades • 19:29h • 17 de dezembro de 2025
Smartphone é causa ou reflexo do sofrimento das gerações Z e Alpha?
Debate sobre saúde mental de jovens cresce, mas especialistas apontam que o problema pode estar mais na cultura digital do que na tecnologia em si
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Compliance/Lilian Carvalho Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
O aumento de diagnósticos de ansiedade, depressão e outros transtornos entre adolescentes das gerações Z e Alpha tem reacendido um debate global: até que ponto os smartphones e as redes sociais são os principais responsáveis por esse sofrimento. A discussão ganhou força após a publicação do livro A geração ansiosa, de Jonathan Haidt, que associa a popularização dos celulares e das plataformas digitais ao crescimento de problemas de saúde mental entre jovens. No entanto, pesquisadores da área de cultura digital defendem que a questão é mais complexa e envolve mudanças profundas no comportamento social mediado pela tecnologia.
Segundo dados citados por Haidt, da American College Health Association, o percentual de adolescentes com algum diagnóstico de doença mental nos Estados Unidos saltou de 20% para 45% desde 2008. O argumento central é que a presença constante do smartphone, aliada ao uso intenso de redes sociais, teria criado um ambiente propício ao adoecimento psíquico. Esse entendimento tem influenciado pais, educadores e até propostas legislativas que defendem restrições severas ao uso de celulares por crianças e adolescentes.
Para Lilian Carvalho, pesquisadora e professora do mundo digital, o debate precisa ir além da ideia de que a tecnologia, por si só, é a vilã. Ela ressalta que crianças e adolescentes, ao longo da história, cresceram expostos a contextos muito mais adversos do que a presença de um smartphone. Como exemplo, cita dados de Israel após os ataques de 7 de outubro de 2023, quando a prevalência de transtornos mentais entre jovens expostos diretamente à violência aumentou de 17% para 30%. “Esses números indicam que fatores sociais, culturais e contextuais têm peso significativo no adoecimento”, analisa.
Outro ponto levantado pela pesquisadora é a cronologia do fenômeno. Smartphones existem desde a década de 1990 e se popularizaram a partir de 2007, com o lançamento do primeiro iPhone. A pergunta, portanto, é por que os impactos mais severos sobre a saúde mental juvenil parecem ter se intensificado apenas nos últimos anos. Para Lilian, a resposta não está apenas na tecnologia, mas na cultura que se desenvolveu a partir dela.
Com os smartphones, qualquer pessoa passou a produzir e disseminar conteúdo em escala global. Esse ambiente permanente de visibilidade criou uma lógica de vigilância social constante, em que erros, rejeições ou comportamentos considerados inadequados podem ser expostos, ridicularizados e “cancelados” publicamente. Para adolescentes, fase marcada por experimentação e vulnerabilidade, esse risco social ampliado pode gerar medo, retraimento e insegurança.
Situações antes restritas ao círculo íntimo passaram a ter potencial de repercussão global. Um comentário, uma tentativa de aproximação ou uma atitude mal interpretada pode ser registrada, compartilhada e transformada em motivo de humilhação coletiva. Esse ambiente, segundo a pesquisadora, contribui para que muitos jovens evitem interações presenciais, atrasem marcos da vida adulta e permaneçam mais tempo em um estado de dependência e infantilização.
Estudos citados pelo Fórum Econômico Mundial indicam que adolescentes estão postergando a entrada na vida adulta, como tirar carteira de motorista ou circular sozinhos em espaços públicos. Para Lilian Carvalho, o medo da exposição e do julgamento constante, tanto no ambiente digital quanto fora dele, ajuda a explicar esse comportamento. “O risco social hoje é real e amplificado. E ninguém está totalmente preparado para lidar com isso”, afirma.
Nesse contexto, ela questiona iniciativas que defendem a proibição ampla do uso de smartphones como solução. Para a pesquisadora, medidas baseadas no que chama de pânico moral tendem a simplificar um problema complexo e podem desviar o foco do que realmente precisa ser enfrentado: a cultura da humilhação, do cancelamento e da leitura automática de más intenções.
Curiosamente, o próprio Jonathan Haidt já apontou, em outros trabalhos, que sociedades marcadas pela humilhação pública tendem a ser disfuncionais. A saída, segundo ele, estaria em adotar uma postura mais generosa, empática e menos reativa nas interações, tanto online quanto offline. Para Lilian, esse caminho faz mais sentido do que a simples proibição tecnológica.
“O desafio não é eliminar o smartphone, mas transformar a cultura que se construiu em torno dele”, defende a pesquisadora. Incentivar empatia, tolerância e responsabilidade coletiva nas interações digitais pode reduzir conflitos, sofrimento e polarização, sem a necessidade de medidas extremas. No fim das contas, conclui, a tecnologia é agnóstica. O impacto que ela gera depende, sobretudo, do uso que a sociedade faz dela.
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