Ciência e Tecnologia • 21:16h • 28 de março de 2025
Silicon Kids: o novo fenômeno das crianças que aprendem IA antes mesmo de aprender a ler
Ferramentas como ChatGPT e DALLE estão sendo usadas por crianças em fase pré-alfabética, e especialistas alertam para os impactos no aprendizado, no desenvolvimento cognitivo e na formação da autonomia infantil
Da Redação | Foto: Divulgação

Elas ainda não sabem ler, mas já pedem para "conversar com o robô". Com vozes agudas e dedos ágeis na tela, muitas crianças em idade pré-escolar estão aprendendo a interagir com ferramentas de Inteligência Artificial antes mesmo de compreender o alfabeto. O fenômeno, apelidado por educadores e futuristas de “Silicon Kids”, chama a atenção de especialistas em desenvolvimento infantil por seu avanço precoce e pelas mudanças profundas que pode gerar no modo de pensar, brincar e aprender.
A popularização da IA generativa, com modelos como ChatGPT, DALLE, Gemini (ex-Bard) e outros assistentes interativos, abriu um novo território de exploração cognitiva — mas também de debate ético, educacional e neurológico. Para muitas famílias, essas ferramentas são vistas como aliadas para entreter, ensinar ou “estimular” a criança. No entanto, o uso precoce e sem mediação levanta alertas sérios entre psicólogos, pedagogos e neurocientistas.
Crianças que já pensam com IA
É cada vez mais comum ouvir relatos de pais dizendo que seus filhos pequenos pedem para o ChatGPT contar histórias, tirar dúvidas ou até criar personagens para brincadeiras. Outros, com tablets nas mãos, usam o DALLE para “desenhar com palavras”, digitando comandos com a ajuda de adultos ou por comando de voz.
A experiência pode parecer mágica: a criança fala, o sistema responde, mostra imagens, dá ideias. Porém, segundo a psicopedagoga Andrea Freire, “ainda estamos descobrindo como o cérebro infantil responde a essa nova mediação. A IA encurta processos que são importantes para a formação do raciocínio, como a experimentação, a frustração e a espera por uma resposta.”
A diferença entre estímulo e atalho
A promessa das ferramentas de IA é oferecer respostas imediatas e conteúdo personalizado, algo atrativo para adultos, mas ainda mais para crianças, que têm o sistema de recompensa cerebral mais sensível à novidade e à resposta rápida. A IA atende a esse desejo sem esforço: basta perguntar e a resposta vem, formatada e "perfeita".
Porém, o aprendizado infantil depende do erro, do tatear, do tentar de novo. Quando a criança salta diretamente para a solução — sem precisar construir o caminho — ela pode perder etapas importantes da formação do pensamento lógico, da criatividade e da autonomia.
“O risco é de criarmos uma geração que confia mais nas respostas da IA do que nas próprias ideias”, afirma a neuropsicóloga Camila R. Domingues. “Isso pode impactar a curiosidade, a tolerância à dúvida e até a autoestima intelectual.”
O que dizem os especialistas?
Especialistas recomendam cautela no uso dessas ferramentas por crianças pequenas. A IA pode, sim, ser uma aliada na educação, mas precisa estar inserida dentro de um contexto mediado, com objetivos claros e limites bem definidos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso de telas por crianças de até 6 anos deve ser limitado, e sempre com supervisão ativa de um adulto. No caso das IAs, essa recomendação é ainda mais relevante, já que a linguagem, os dados e as informações geradas podem conter erros, vieses ou conteúdos impróprios, mesmo com filtros de segurança.
Além disso, há a preocupação com a formação de padrões de consumo e de pensamento automatizados, já que a criança pode aprender a pedir, mas não necessariamente a refletir.
Como os pais devem lidar com os “Silicon Kids”?
Em vez de proibir, o caminho mais eficaz é acompanhar, conversar e contextualizar. Se uma criança quer usar o ChatGPT para ouvir uma história, o ideal é que o adulto esteja junto, lendo a história com ela, fazendo perguntas, discutindo os personagens. Se quer criar imagens com DALLE, pode transformar isso em um projeto artístico real, desenhando também com lápis de cor.
Outras estratégias incluem:
- Estimular o uso da IA como ferramenta de criação, não apenas de resposta pronta;
- Alternar atividades digitais com experiências físicas, manuais e sensoriais;
- Incentivar perguntas abertas e não apenas respostas objetivas;
- Promover momentos offline e a valorização do tédio como espaço para invenção.
Um futuro inevitável, mas moldável
Não há como impedir que as crianças cresçam cercadas por Inteligência Artificial. O desafio está em garantir que essa convivência seja inteligente, consciente e formativa. Os “Silicon Kids” já são realidade e, ao que tudo indica, serão protagonistas de um futuro onde pensar em parceria com a tecnologia será o padrão.
Cabe aos adultos, agora, ensinar essas crianças a usarem a IA como extensão da criatividade e não como substituta da imaginação.
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