Responsabilidade Social • 18:39h • 26 de outubro de 2025
Setor de papel reciclado registra queda e acende alerta para fragilidade da cadeia no Brasil
Relatório da ANAP mostra recuo no volume total de aparas em 2024 e defende políticas públicas que garantam sustentabilidade e remuneração justa para a coleta e reciclagem
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
O volume de papel reciclado no Brasil caiu em 2024, atingindo 59,7% do total de aparas reaproveitadas — o pior índice desde 2018, segundo o relatório anual da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (ANAP), elaborado pela MaxiQuim e apresentado durante a Eco Expo 2025, maior evento da América Latina sobre gestão de resíduos sólidos, reciclagem e sustentabilidade, realizado na quinta-feira (23).
Apesar do aumento de 3% no volume de geração, que somou 4,65 milhões de toneladas, e do crescimento de 30% no faturamento do setor, totalizando R$ 4,2 bilhões, o estudo aponta que a atividade não foi rentável em 2024.
“Esse é um número enganoso. Um aumento de preço tão relevante não ser capaz de reestruturar uma cadeia que foi desfeita por um preço tão baixo é um sinal de alerta”, afirma João Paulo Sanfins, vice-presidente da ANAP. “Precisamos de políticas públicas que assegurem estabilidade e remuneração adequada à cadeia de coleta.”
Sanfins defende que o governo adote medidas semelhantes ao decreto do plástico, estabelecendo obrigações de uso de conteúdo reciclado nas embalagens e incentivos à logística reversa. “Um decreto específico para o papel e o papelão poderia tornar a cadeia mais imune às oscilações de preços das commodities e fortalecer o setor no longo prazo”, complementa.
O relatório também revela que, para movimentar o pequeno aumento de 3% no volume reciclado, foi necessário um acréscimo de 3,5% na mão de obra, além de investimentos em renovação de frota e aquisição de empilhadeiras. Esses custos adicionais refletem a tentativa do setor de recompor a estrutura de coleta que havia sido desfeita pelos preços extremamente baixos praticados em 2023.
Mudança no fornecimento expõe vulnerabilidade da cadeia
O levantamento aponta uma mudança significativa no padrão de fornecimento das aparas de papel. A participação de estabelecimentos comerciais aumentou 10%, enquanto os sucateiros e ferros-velhos perderam 7% de participação e as cooperativas, 3%.
“O pequeno coletor, o sucateiro e as cooperativas simplesmente não se mobilizaram novamente para voltar a trabalhar com papel. Para muitos, o plástico se mostrou mais vantajoso”, explica Sanfins.
A falta de mobilização dessas bases tradicionais obrigou os aparistas a assumirem diretamente a coleta e a investirem em mão de obra e infraestrutura, mesmo com máquinas ociosas. “O faturamento aumentou, mas esse dinheiro foi imediatamente revertido em reestruturação. Isso mostra como é caro e difícil reconquistar uma base de fornecimento perdida”, acrescenta o vice-presidente da ANAP.
Alerta na balança comercial
O estudo ainda destaca um desequilíbrio nas transações internacionais. As importações de aparas de papel cresceram 47%, enquanto as exportações caíram 7,5% em 2024, mantendo o saldo negativo observado desde 2020.
Além disso, o preço das aparas brancas tipo III registrou uma queda de 20,5%, impactado pela redução da demanda interna e pelo aumento dos custos da celulose, o que acentua a preocupação com a competitividade da indústria nacional.
A ANAP reforça que a regulamentação da cadeia é urgente para garantir previsibilidade, remuneração justa e incentivo à reciclagem. “Sem estabilidade e valorização do reciclado, o setor não se sustenta — e o país perde em desenvolvimento ambiental e econômico”, conclui Sanfins.
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