Ciência e Tecnologia • 15:11h • 27 de junho de 2025
Seleção de embriões para doação de medula avança, mas uso na América Latina ainda é limitado
Técnica permite identificar embriões compatíveis com irmãos doentes, mas enfrenta barreiras como desconhecimento, custo e desafios éticos na região
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Sensu Comunicação | Foto: Divulgação

Nos últimos anos, a medicina reprodutiva passou a oferecer uma possibilidade inovadora para famílias que enfrentam doenças graves: selecionar embriões geneticamente compatíveis para doar medula óssea a irmãos afetados. A técnica envolve a tipagem do antígeno leucocitário humano (HLA) combinada ao teste genético pré-implantação para doenças monogênicas (PGT-M), garantindo maior chance de sucesso em transplantes e menor risco de rejeição.
O PGT-M permite selecionar embriões livres da mutação causadora da doença e, ao mesmo tempo, compatíveis com o HLA de um irmão doente. Após a realização da fertilização in vitro (FIV), os embriões são analisados geneticamente. Aqueles livres da doença e compatíveis são considerados aptos para implantação no útero materno.
A técnica representa um avanço promissor no tratamento de doenças como leucemias, linfomas, anemia falciforme, lúpus e outras condições genéticas e hematológicas. No entanto, seu uso permanece limitado na América Latina, especialmente fora do Brasil. Estudo liderado por Daniela Lorenzi, do laboratório Igenomix Argentina (Vitrolife Group), revelou que, entre 2017 e 2024, dos 944 casos registrados no Brasil e Argentina, apenas 68 embriões foram compatíveis com HLA, representando 7,2% do total.
Apresentado na 22ª Conferência da Sociedade Internacional de Diagnóstico Genético Pré-implantação (PGDIS), o estudo mostrou ainda que apenas três embriões (8,6%) entre os 35 blastocistos analisados eram simultaneamente compatíveis e euploides, ou seja, com o número correto de cromossomos, o que reforça a importância da análise PGT-A para evitar falhas de implantação.
A análise dos dados apontou também que 30 casais (68,2%) conseguiram pelo menos um embrião adequado para transferência, enquanto 14 casais (31,8%) não obtiveram embriões compatíveis e abandonaram o tratamento. A média de idade materna foi de 34,9 anos.
Apesar dos avanços, o uso da técnica na região ainda é discreto. Com exceção do Brasil, países como Chile, Peru, México e Colômbia não registraram nenhum caso de tipagem HLA combinada ao PGT-M no período analisado. Os principais obstáculos são o desconhecimento sobre a técnica, os altos custos da FIV e dos testes genéticos, a necessidade de grande número de embriões para aumentar as chances de compatibilidade, além das discussões éticas envolvendo a seleção embrionária.
“O número ainda baixo de casos na América Latina revela um potencial inexplorado que pode significar esperança para muitas famílias. A tecnologia existe, mas é preciso ampliar o acesso e o conhecimento sobre ela”, destaca Daniela Lorenzi.
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