Saúde • 12:03h • 21 de outubro de 2024
Saúde adota tecnologia para conter a dengue nas periferias
Como parte do plano para redução das arboviroses, Ministério da Saúde vai implantar as estações disseminadoras de larvicida (EDL) em dezenas de periferias pelo Brasil. Expectativa é reduzir casos de dengue em até 28%
Da Redação com informações do Ministério da Saúde | Foto: Igor Evangelista/MS
Como parte das ações do Plano de Ação para Redução da Dengue e outras Arboviroses, lançado em setembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério da Saúde vai instalar Estações Disseminadoras de Larvicida (EDL) como um método de prevenção e controle do Aedes aegypti em periferias de todo Brasil. O método já foi aplicado pela Fiocruz em diversos estados e, recentemente, o reconhecimento da eficácia na redução de casos de dengue gerou uma publicação na revista Lancet – uma das mais antigas e reconhecidas revistas científicas de saúde do mundo.
Saiba mais sobre essa estratégia para o controle da doença:
Como as estações funcionam
Para reduzir os casos de dengue entre populações em situação de vulnerabilidade, a pasta vai aplicar a tecnologia em dezenas de periferias brasileiras. Para escolher os municípios, são avaliados requisitos como a densidade populacional e o número de notificações por dengue, chikungunya, Zika nos últimos anos.
Essa estratégia é particularmente efetiva para locais populosos ou de difícil acesso. Por isso, foram consideradas como prioritárias as áreas que apresentam criadouros de difícil detecção pelos Agentes de Combate a Endemias (ACEs), bem como locais inacessíveis, mas que apresentam persistência de ovos e larvas, como prédios fechados, ferro velho, borracharia, cemitérios, entre outros.
A armadilha consiste em um pote com água, recoberto com um tecido preto e impregnado com larvicida em pó. Ao pousar na EDL, o pó adere ao corpo do mosquito. Como as fêmeas visitam muitos criadouros para colocar poucos ovos em cada um, elas disseminam o larvicida em um raio que pode variar de 3 a 400 metros. O resultado final é a redução no desenvolvimento de larvas e, consequentemente, menor infestação e avanço da dengue. O larvicida é inofensivo para animais e pessoas.
Redução dos casos de dengue em Belo Horizonte
O projeto foi desenvolvido pela Fiocruz Amazônia e aplicado em diversos estados brasileiros desde 2014. Os resultados publicados no último mês na revista The Lancet Infectious Diseases apresentam os resultados obtidos em Belo Horizonte, onde ao longo de dois anos, foram distribuídas cerca de 2,5 mil estações em um raio de 25 mil residências localizadas em nove bairros da capital mineira. A intervenção reduziu a incidência de dengue em 29% nesses bairros e, mesmo nos bairros adjacentes, houve a diminuição de 21% em comparação com os outros 258 bairros da cidade.
Saiba mais sobre a criação da tecnologia
Um dos criadores do método é o pesquisador e ex-diretor da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luz. O pesquisador relata que, inicialmente, o primeiro município a receber a tecnologia foi a cidade de Manacapuru, localizada no interior do Amazonas, e que, na época, possuía 40 mil habitantes. “O resultado foi muito surpreendente porque a iniciativa chegou a zerar o número de mosquitos transmissores da dengue na área. E isso nos estimulou a mostrar que é possível realizar o controle através dessa estratégia”, contou.
Com a tecnologia em fase de expansão para todo o Brasil, Sérgio relatou sua satisfação ao ver uma metodologia comprovadamente eficaz, de baixo custo e materiais acessíveis, ser reconhecida pela comunidade científica acadêmica mundial e incorporada pelo Ministério da Saúde.
“Transformar a ciência em uma política pública efetiva, que pode ajudar toda a população, é algo muito importante. As arboviroses são capazes de atingir a população mais rica e mais pobre. Mas os maiores números de óbitos e problemas graves gerados por essas doenças são encontrados justamente nas populações mais vulneráveis”, concluiu.
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