Saúde • 19:31h • 22 de outubro de 2025
Psiquiatra explica riscos do uso indevido de medicamentos para dormir
Uso incorreto de medicações pode causar dependência e distúrbios do sono, e reforça que o tratamento mais eficaz para insônia é não-medicamentoso
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Divulgação

Dormir mal tem se tornado uma queixa frequente entre os brasileiros. Dificuldade para “desligar” a mente à noite, despertar sem descanso e recorrer a remédios para induzir o sono são sinais de alerta que merecem atenção. O uso indevido desses medicamentos, em vez de resolver o problema, pode agravar a insônia e comprometer o funcionamento natural do corpo.
A psiquiatra Dra. Maria Fernanda Caliani, especialista em saúde mental e distúrbios do sono, alerta que o consumo de remédios sem orientação médica interfere no ciclo natural do sono e pode levar à dependência.
Benzodiazepínicos: vilões silenciosos do sono
Fármacos como Rivotril e Diazepam, pertencentes à classe dos benzodiazepínicos, ainda são amplamente usados no país, mas devem ser administrados com cautela. Essas substâncias possuem alto potencial de dependência física e psicológica, e o uso contínuo tende a exigir doses cada vez maiores. Além disso, elas alteram o sono profundo e o sono REM, fases essenciais para a recuperação do organismo.
Mesmo os hipnóticos mais modernos, como o Zolpidem, podem causar dependência quando utilizados sem acompanhamento adequado.
E a melatonina? Não é tão simples assim
A melatonina, apesar de ser um hormônio produzido naturalmente pelo corpo, tem indicação clínica restrita. É recomendada para casos específicos, como jet lag, trabalho noturno ou distúrbios do ritmo circadiano, e não deve ser usada como solução geral para insônia.
Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCCI): o tratamento de primeira linha
De acordo com os principais guias médicos internacionais, o tratamento mais eficaz para a insônia crônica é a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCCI). A abordagem reúne técnicas comportamentais e cognitivas voltadas à reeducação do sono e à restauração natural do descanso.
Entre as estratégias utilizadas estão:
- Higiene do sono, com horários regulares, controle de luz e estímulos noturnos;
- Técnicas de relaxamento e controle de estímulos, como sair da cama caso não consiga dormir;
- Restrição do sono, método temporário para aumentar a pressão do sono;
- Trabalho de crenças disfuncionais, que perpetuam a dificuldade para dormir.
A psiquiatra reforça que a insônia é uma desregulação do sistema cerebral do sono, e requer tratamento individualizado, que pode ou não envolver medicamentos.
Quando o uso de remédios é indicado
O tratamento medicamentoso pode ser necessário em casos específicos, como:
- Insônia aguda decorrente de luto, trauma ou estresse intenso;
- Transtornos psiquiátricos graves, como depressão ou ansiedade;
- Falha nas abordagens não medicamentosas;
- Situações pontuais, como jet lag ou turnos noturnos.
Alguns antidepressivos e antipsicóticos, como mirtazapina, trazodona e quetiapina, também podem ser prescritos para tratar insônia associada a outras condições, sempre com acompanhamento médico.
Consequências do uso inadequado
O uso prolongado ou incorreto de medicações para dormir pode provocar:
- Alterações no ritmo circadiano;
- Quedas e fraturas, especialmente em idosos;
- Déficits cognitivos e lapsos de memória;
- Aumento do risco de pneumonia e outros efeitos adversos.
Dormir bem é uma construção diária
Para melhorar o sono de forma natural, a psiquiatra recomenda:
- Expor-se à luz natural pela manhã;
- Praticar exercícios físicos regularmente, mas não próximo da hora de dormir;
- Evitar cochilos longos durante o dia;
- Criar uma rotina noturna relaxante, sem telas;
- Evitar levar preocupações para a cama.
“Ter uma noite ruim de vez em quando é normal, mas quando o problema se torna frequente, é fundamental procurar ajuda médica. Automedicação nunca é o caminho seguro”, reforça Dra. Maria Fernanda.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo