Ciência e Tecnologia • 08:41h • 12 de novembro de 2025
Projeto usa inteligência artificial para mapear vulnerabilidades climáticas no Brasil
O projeto Riskclima, da UFF, usa inteligência artificial para mapear as regiões mais vulneráveis a extremos climáticos no Brasil e sugerir ações práticas para reduzir impactos
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Arquivo Âncora1
O projeto Riskclima, da Universidade Federal Fluminense (UFF), utiliza inteligência artificial (IA) e outras ferramentas para identificar as áreas do Brasil mais vulneráveis aos extremos climáticos e aos problemas sociais decorrentes deles. A partir desses diagnósticos, são propostas soluções adaptadas a cada região, buscando melhorar a qualidade de vida da população. Muitas vezes, medidas simples, como reforçar a importância da hidratação em períodos de calor intenso, já podem evitar mortes, especialmente entre idosos.
Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Riskclima foi criado em 2022 e deve seguir até 2026. Nesse período, os pesquisadores analisam dados climáticos das últimas seis décadas e projetam cenários futuros. Segundo o coordenador do projeto, Márcio Cataldi, do Laboratório de Monitoramento e Modelagem do Sistema Climático da UFF, o objetivo é produzir um relatório que contribua para políticas públicas mais efetivas.
Como funciona
Os pesquisadores investigam quais extremos climáticos — como calor, chuvas intensas e secas — são mais frequentes e intensos em cada região. A IA é usada para ajustar modelos internacionais do IPCC à realidade brasileira. Isso permite identificar onde os riscos estão crescendo mais rapidamente e sugerir ações para reduzir impactos.
A tecnologia também ajuda a selecionar os modelos climáticos que melhor representam o clima atual. Quando um modelo apresenta falhas, como simular menos chuva do que o observado, a IA aprende com isso e corrige projeções futuras.
Principais resultados
A equipe do Riskclima identificou que, nos últimos dez anos, as ondas de calor mais intensas do Brasil ocorreram na Região Norte, algo surpreendente até para os pesquisadores. Embora o aumento seja nacional, o Norte registra o crescimento mais preocupante, principalmente por ter menor capacidade de adaptação.
Cataldi explica que soluções para comunidades tradicionais precisam respeitar seus modos de vida. Antes de propor tecnologias como ventiladores ou geradores, é essencial investir em educação ambiental e mostrar que as oscilações naturais do clima foram substituídas por mudanças mais abruptas.
No Sul, o foco está nas chuvas e enchentes. O projeto analisa o aumento de bloqueios atmosféricos que impedem frentes frias de avançarem, concentrando tempestades na região — como ocorreu nas enchentes de 2024, que deixaram 184 mortos no Rio Grande do Sul. Para o pesquisador, mapear áreas de inundação e garantir manutenção de estruturas como comportas são medidas urgentes.
No Sudeste e no Centro-Oeste, a seca é o maior problema. Estudos publicados na revista Nature mostram que a umidade do solo está diminuindo há anos, resultado de chuvas abaixo da média. A região concentra a maior parte da população, da produção agrícola e dos reservatórios de energia do país, reforçando a necessidade de colocar a água como prioridade nacional. Entre as soluções estão otimizar a irrigação, ampliar fontes renováveis e preservar a geração hídrica.
No Nordeste, especialmente na Caatinga e no semiárido, a seca avança para um processo de desertificação. “É uma região que já era seca, mas está ficando ainda mais seca”, afirma Cataldi.
Impactos na saúde
Os efeitos das mudanças climáticas também atingem a saúde pública. Bloqueios atmosféricos pioram a qualidade do ar ao aprisionar poluentes próximos ao solo. Ondas de calor intensas aumentam o risco de desidratação e, consequentemente, de trombose e ataques cardíacos. Cataldi destaca que, mesmo acostumado ao calor, o Brasil precisa reforçar cuidados simples, especialmente com idosos.
Próximos passos
Até 2026, o Riskclima apresentará às autoridades um relatório com propostas práticas para enfrentar problemas climáticos em cada região do país. O grupo defende ações rápidas, já que os efeitos extremos estão acontecendo agora. Mesmo que as emissões globais fossem zeradas hoje, o clima levaria décadas para se estabilizar — por isso, entender onde mitigar impactos é fundamental.
Segundo Cataldi, a intenção é apoiar governos na criação de políticas sólidas, contínuas e baseadas em evidências. “Não dá para esperar. Precisamos começar agora a adaptar e mitigar.”
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