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Saúde • 09:39h • 11 de outubro de 2024

Pressão extrema eleva depressão e suicídio entre profissionais de segurança e saúde

Especialistas chamam a atenção para o sofrimento mental desses agentes

Da Redação/Agência Gov | Foto: Agência Gov | via Fundacentro

Fundacentro
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Os trabalhadores de segurança pública (policiais, bombeiros e agentes penitenciários) e da saúde (médicos, enfermeiros e técnicos) estão expostos a condições de trabalho particularmente estressantes, que podem gerar sofrimento mental e, em casos extremos, levá-los ao suicídio.

Durante o Seminário Nacional de Prevenção ao Suicídio e Trabalho, especialistas, que participaram do bloco “Sofrimento mental e vulnerabilidades entre trabalhadores da segurança pública” e “Sofrimento mental e vulnerabilidades entre trabalhadores da saúde” , informaram que um ambiente de estresse constante pode evoluir para quadros de depressão, ansiedade e burnout.

Salientam ainda que com o tempo, sem uma intervenção adequada, a sensação de esgotamento emocional e de impotência pode levar ao suicídio. Esse é um problema grave entre essas categorias profissionais, pois muitas vezes o acesso a meios letais, como armas, por exemplo, no caso de policiais, facilita a concretização de pensamentos suicidas.

Confronto com a violência e a morte

Os trabalhadores da segurança pública lidam com situações de risco de vida, violência extrema e morte de colegas, enquanto os profissionais da saúde enfrentam situações de morte frequente e o sofrimento dos pacientes, o que pode gerar desgaste emocional profundo.

A tecnologista da Fundacentro, Maria Christina Felix, participa da primeira temática e diz que é extremamente importante que existam políticas públicas que abordem a saúde mental dos agentes de segurança pública, incluindo a formação em saúde mental e a criação de protocolos de intervenção. Concluindo, a promoção da saúde mental dos trabalhadores de segurança pública é essencial não só para o bem-estar desses profissionais, mas também para a eficácia do trabalho que realizam na proteção da sociedade.

Para ela, esses desafios devem ser enfrentados através de programas de capacitação. “O apoio psicológico reduz o estigma e pode contribuir para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, finaliza.

Dados coletados referentes aos agentes de segurança

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 revelou um aumento alarmante nas ocorrências de suicídio, especialmente nos estados de São Paulo (80%) e Rio de Janeiro (116,7%), conforme os dados coletados das polícias civil e militar. Nos casos de falecimentos de policiais militares, a situação se torna ainda mais preocupante nos estados do Acre, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2023, houve mais policiais militares mortos por suicídio do que por conflitos durante o descanso ou no serviço.

A coordenadora de segurança pública e saúde do trabalhador, Meire Cristina de Souza, do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio - Ippes, salienta que devido às demandas emocionais e psicológicas enfrentadas por profissionais de segurança na sua rotina de trabalho, esses agentes frequentemente lidam com situações de alto risco, violência e trauma que levam aos altos níveis de estresse.

“O contato constante com situações de conflito e a pressão em atividade de risco aumentam a probabilidade de desenvolver transtornos mentais, como o transtorno de estresse pós-traumático. Entre 2015 e 2022, 12.584, entre policiais civis e militares no Brasil, foram acometidos com uma patologia da saúde mental: ansiedade 5.289, depressão 4.735 e síndrome do pânico 3.576”, frisa.

“Também tivemos fontes extraoficiais que conduzimos nessa etapa do trabalho através de monitoramento jornalístico e de ocorrências registradas pelas instituições. No Instituto de Pesquisa - IPPes , possuímos um grupo de WhatsApp que conta com a participação de vários representantes interessados para garantir que esses dados sejam, de alguma maneira, observados de uma forma ou de outra e transmitidos a esse grupo, as situações atuais e os registros mantidos pelas instituições de tentativas e suicídios. Bom, como eu disse, 821 desses profissionais de segurança tiraram a própria vida nos últimos seis anos, de 2018 a 2023”, explica Meire.

Nesse cenário, a coordenadora informa que 57% são policiais militares; 19% policiais civis e profissionais das perícias técnicas; 13% policiais criminais, 4% bombeiros militares, 4% profissionais de forças federais, 3% guardas municipais das capitais. “É muito alarmante, ainda que tivéssemos apenas uma vida, isso já seria um grande impacto”, exalta.

Programa de assistência ampla

O estigma associado a demonstrar vulnerabilidade emocional, particularmente em profissões como a de segurança pública, faz com que muitos profissionais evitem buscar ajuda. “A sensação de estar isolado e a ideia de que devem ser “fortes”, o mito do herói, para cumprir suas funções agrava o problema”, salienta a procuradora do Ministério Público do Trabalho – MPT, Cynthia Maria Simões Lopes. A procuradora retrata que ela e a especialista Samira Shaat desenvolveram um programa de assistência ampla, integrada à saúde mental e valorização dos agentes de segurança pública do Rio de Janeiro.

O que temos observado é que os fatores relacionados ao suicídio, como insônia, ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático, estão presentes no Brasil. O pesquisador comenta que através de um estudo sobre a vitimização e a saúde mental de policiais identificou alguns fatores de riscos, incluindo: estrutura rígida e burocrática sem padronização, transtorno de estresse pós-traumático, uso de álcool e outras drogas, e o uso de armas de fogo.

“O superendividamento, como mencionado anteriormente, também foi identificado, e o assédio de bancos para expandir o uso de crédito. Outros fatores de risco incluem divórcio, trabalhos por plantão e a necessidade de tomar decisões sob pressão, além da jornada extensiva sem descanso adequado, o que pode agravar ainda mais a situação”, aponta José Ferdinando.

Sofrimento mental, vulnerabilidades entre trabalhadores da saúde

A questão do sofrimento mental entre os trabalhadores da saúde tem sido cada vez mais debatida, sobretudo devido à sua exposição constante a situações de estresse e pressão elevada. 

Para debater sobre o “Sofrimento mental, vulnerabilidades entre trabalhadores da saúde” , Ana Rubia Wolf Gomes, tecnologista da Fundacentro, fez a coordenação da mesa composta por Rogério Giannini, do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo; Ana Paula Guljor, da Associação Brasileira de Saúde Mental e do Conselho Nacional de Saúde; Elaine Cristina Marqueze, do Programa Paul Singer de Economia Popular e Solidária, e Fernanda Magano, do Conselho Nacional de Saúde – CNS.

Ao falar dos profissionais da saúde, os especialistas enfatizam que essa categoria está sujeito ao estresse, à ansiedade, à depressão e ao burnout, devido a fatores como jornadas de trabalho intensas, demandas emocionais elevadas, exposição à morte e ao sofrimento humano, além de condições de trabalho precárias em alguns casos.

Ana Paula Guljor informa que o sofrimento dos trabalhadores de saúde é diferente em cada categoria. “O sofrimento vivido por um técnico de enfermagem durante a pandemia era imediato e físico, enquanto outros profissionais, como eu, que sou psiquiatra, conseguiam atender on-line. Essa diferença de experiência está ligada também à disparidade salarial entre os diferentes profissionais de saúde, o que impacta diretamente no cuidado e na saúde mental”, esclarece.

Completa que é necessário refletir sobre as condições de trabalho nas redes de atenção psicossocial, especialmente após a pandemia. “Tenho visto a fragilidade dessas redes, com demissões e a rotatividade de profissionais, o que gera insegurança e sofrimento. A troca constante de profissionais dificulta a construção de vínculos e o acolhimento adequado das pessoas em situações de vulnerabilidade”, ressalta.

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