Economia • 19:29h • 06 de agosto de 2025
Por que o Brasil (quase) não tem outlets de verdade?
Impostos altos, produção enxuta e cultura de consumo imediatista estão entre os principais fatores que impedem o modelo americano de prosperar por aqui
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Divulgação

A cena é conhecida de muitos brasileiros que visitam os Estados Unidos: corredores lotados, sacolas abarrotadas e preços até 70% mais baixos em marcas como Nike, Calvin Klein e Tommy Hilfiger. Mas ao voltar para o Brasil, a decepção: os chamados “outlets” por aqui raramente oferecem o mesmo tipo de experiência. Muitos se parecem mais com shoppings convencionais e pouco lembram os centros de liquidação que encantam os turistas lá fora.
Essa diferença tem explicações profundas, e não se resume à estratégia das lojas. Entre os principais entraves estão os altos tributos brasileiros. Somente a cadeia de impostos como IPI, ICMS, PIS/COFINS e contribuições sobre a folha já consome boa parte da margem de lucro das empresas. Um desconto real, como os aplicados nos EUA, muitas vezes representaria prejuízo direto para os lojistas no Brasil.
Além disso, a lógica de abastecimento difere. Nos EUA, a produção em larga escala gera excedentes que vão para os outlets. No Brasil, a indústria adota um modelo mais enxuto, justamente para evitar estoque parado — que aqui é penalizado com tributos antes mesmo de a peça ser vendida.
Soma-se a isso uma infraestrutura deficiente em várias regiões do país e uma logística onerosa, que desestimula a instalação de outlets mais afastados dos grandes centros, como ocorre em países desenvolvidos.
Outro fator é cultural: o consumidor brasileiro valoriza o novo, o lançamento, a peça da vitrine. Comprar coleções passadas ainda é, para muitos, sinônimo de perda de status. Por fim, a explosão do varejo online também alterou o jogo. Marcas preferem liquidar seus estoques em “bazares virtuais”, com menos custos fixos e alcance maior.
Enquanto isso, os poucos outlets físicos existentes ainda não entregam, na prática, a promessa de descontos reais. No Brasil, o conceito de outlet ainda esbarra em entraves estruturais — e a pechincha segue sendo, quase sempre, uma realidade importada.
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