Ciência e Tecnologia • 11:12h • 29 de setembro de 2025
Paracetamol pode reduzir em até 50% a divisão celular de embriões nos primeiros dias de desenvolvimento
Estudo internacional revela efeitos do analgésico usado por até 65% das gestantes e reforça necessidade de cautela no início da concepção
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Sensu Comunicação | Foto: Arquivo/Âncora1

Um dos medicamentos mais populares do mundo, o paracetamol, pode afetar diretamente as primeiras etapas do desenvolvimento humano. Estudo publicado em agosto de 2025 na revista científica Human Reproduction mostrou que o fármaco, em concentrações equivalentes a uma dose comum de 1 grama, reduziu em até 50% a velocidade de divisão celular em embriões humanos durante os primeiros dias após a fertilização in vitro (FIV).
A pesquisa reuniu cientistas da Dinamarca, França e Estados Unidos, incluindo o Copenhagen University Hospital, a Université de Rennes/Inserm e o Beth Israel Deaconess Medical Center, ligado à Harvard Medical School. Foram analisados 90 embriões excedentes de FIV, além de experimentos com camundongos, células humanas cultivadas e leveduras.
Segundo os pesquisadores, os embriões expostos ao medicamento apresentaram atrasos na formação do blastocisto, pior qualidade da massa celular interna, parte essencial para a formação do feto e, em alguns casos, falhas de implantação. O tempo de duplicação celular praticamente dobrou, passando de 13 horas para cerca de 30 horas.
Impactos na reprodução assistida
Os resultados sugerem uma possível explicação para a alta taxa de insucessos na fase de implantação de embriões. Estima-se que até 40% das concepções fracassem nesse estágio, metade por causas genéticas e metade por fatores uterinos ou externos, como medicamentos. O paracetamol, consumido por cerca de 65% das gestantes nos Estados Unidos e 50% no mundo, aparece como potencial fator de risco em um período crítico.
A embriologista brasileira Catherine Kuhn Jacobs, do Vitrolife Group, que analisou os dados, destaca que o alerta é relevante. “Hoje conseguimos acompanhar as divisões celulares com incubadoras time-lapse, mas nem sempre sabemos a causa das alterações. Esse estudo ajuda a compreender um dos enigmas da reprodução assistida”, explica.
Limitações e próximos passos
Apesar da consistência dos resultados em diferentes modelos, os autores reconhecem que o número de embriões humanos analisados foi pequeno. Ainda não há comprovação direta de que o uso do paracetamol em larga escala esteja associado a perdas gestacionais, mas os cientistas defendem novos estudos clínicos.
Do ponto de vista clínico, o estudo não contraindica totalmente o uso do paracetamol em mulheres que desejam engravidar, mas reforça a necessidade de cautela e acompanhamento médico. A possibilidade de que exposições comuns possam reduzir pela metade o ritmo de desenvolvimento celular abre espaço para revisão de protocolos clínicos e futuras recomendações médicas.
As próximas etapas incluem ampliar a análise em populações humanas para confirmar a associação entre o consumo do medicamento e falhas de implantação, além de investigar efeitos em fases posteriores, como a formação de órgãos e do cérebro.
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