Responsabilidade Social • 15:06h • 24 de julho de 2025
País gasta R$ 1,2 bilhão com doenças que seriam evitadas com água limpa
Estudo revela que crianças, idosos e populações vulneráveis continuam adoecendo por falta de água tratada e esgoto, enquanto país convive com esgoto a céu aberto e impactos bilionários no SUS
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Base Comunica | Foto: Divulgação

A precariedade do saneamento básico no Brasil permanece como uma das faces mais alarmantes da desigualdade social e de saúde pública. Apesar de avanços em legislações e investimentos, dados recentes do Instituto Trata Brasil revelam um cenário preocupante: mais de 344 mil pessoas foram internadas no país em 2024 por doenças diretamente relacionadas à ausência de infraestrutura sanitária adequada. Em 2023, mais de 11 mil brasileiros morreram por essas mesmas causas.
Essas doenças como diarreias, hepatite A, leptospirose e dengue atingem de forma desproporcional os mais vulneráveis. Crianças de até 4 anos representam 20% das internações, enquanto idosos e mulheres, especialmente aquelas responsáveis por cuidados familiares, enfrentam sobrecarga, prejuízos na saúde mental e perda de renda.
Além da desigualdade social, o recorte racial e geográfico também escancara o abismo no acesso a condições básicas de vida. As populações negras, pardas, indígenas e amarelas lideram as estatísticas de internações e óbitos. Regiões como o Norte e o Nordeste, especialmente Maranhão e Pará, concentram as maiores taxas de incidência de doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado.
O impacto financeiro dessa situação também é expressivo. O Sistema Único de Saúde (SUS) gasta, em média, R$ 506 por internação associada à falta de saneamento. A universalização do acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário poderia gerar uma economia de até R$ 43,9 milhões anuais ao SUS, chegando a R$ 1,2 bilhão em médio e longo prazos.
Crianças e idosos ainda morrem por esgoto a céu aberto no país | Foto: Augusto Dauster/Divulgação
A legislação brasileira prevê metas ousadas. O Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020, estabelece o fornecimento de água potável para 99% da população e o tratamento de esgoto para 90% dos brasileiros até 2033. Mas, a cada ano de atraso, vidas seguem sendo perdidas. Um dado emblemático reforça a urgência: após três anos da implantação do saneamento em uma região, as internações por doenças ligadas ao problema caem, em média, 69%.
Para Rodrigo Tavares, CEO da Pwtech, empresa que desenvolve soluções inovadoras para o setor, não basta esperar apenas pelas ações do poder público. “Acreditamos que soluções escaláveis e acessíveis devem caminhar lado a lado com políticas públicas. Mas nenhum esforço individual substitui o pacto coletivo. O saneamento não pode mais ser tratado como pauta secundária”, afirma.
Com a proximidade da COP-30, que será sediada no Brasil, o debate ganha ainda mais urgência. Tavares reforça: “O país que sediará a conferência climática não pode continuar convivendo com esgoto a céu aberto, rios contaminados e crianças sem acesso à água limpa. O futuro começa pela água.”
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