Saúde • 21:19h • 07 de outubro de 2025
O que o corpo faz quando o tratamento com Ozempic ou Mounjaro é interrompido
Estudos mostram que até dois terços do peso perdido com análogos do GLP-1 retornam em um ano; especialista alerta para a necessidade de manejo contínuo e mudanças de estilo de vida
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Digital Trix | Foto: Arquivo/Âncora1

O sucesso dos medicamentos à base de GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, transformou o tratamento da obesidade e do sobrepeso, oferecendo resultados expressivos na redução de peso e no controle do diabetes. Mas, à medida que a euforia inicial cede espaço à prática clínica, a ciência mostra um fato difícil de ignorar: quando o uso é interrompido, o peso tende a voltar e rápido.
Ensaios clínicos apontam que, após a suspensão do tratamento, pacientes recuperam até dois terços do peso perdido em apenas um ano. No estudo STEP-1, por exemplo, pacientes tratados com semaglutida perderam 17,3% do peso corporal em 68 semanas. Após parar o medicamento, no entanto, boa parte desse peso foi recuperada em menos de 12 meses.
Pesquisadores da Universidade de Pequim, na China, revisaram 11 estudos com quase 2.500 pessoas e chegaram a um padrão semelhante: entre 8 e 20 semanas após o fim do uso, o peso começa a subir novamente. Outro trabalho publicado no Diabetes, Obesity and Metabolism mostrou que reduzir a frequência das aplicações para intervalos quinzenais pode preservar cerca de 75% da perda obtida, mas o risco de reganho total permanece.
Segundo a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora médica da clínica Atma Soma, o fenômeno tem explicação biológica. Quando há perda rápida de peso, o corpo interpreta essa mudança como ameaça à sobrevivência, desacelera o metabolismo e aumenta o apetite, tentando recuperar a gordura perdida. Esse mecanismo, de defesa natural, ajuda a entender o chamado “efeito sanfona”.
Além do impacto emocional, a médica alerta que as oscilações de peso afetam a qualidade da massa muscular e revertem ganhos metabólicos importantes, como a melhora do controle glicêmico e a redução do risco cardiovascular.
Efeito semelhante entre os medicamentos
Nos estudos comparativos, a tirzepatida (Mounjaro) se mostrou mais potente que a semaglutida, com perdas médias entre 15,7% e 22,5% do peso corporal, contra até 17,3% dos tratamentos com Ozempic e Wegovy. No entanto, o padrão de reganho é o mesmo: após a interrupção, o corpo tende a recuperar parte do peso, independentemente da substância utilizada.
Um levantamento divulgado pelo The Guardian reforçou essa constatação: até 95% dos usuários voltam a ganhar peso poucos meses após o fim das aplicações, alguns deles retomando metade do peso perdido em questão de semanas.
O desafio do tratamento contínuo
Para além dos números, o cenário expõe uma questão estrutural. A obesidade é uma doença crônica, e, como tal, requer tratamento permanente, custo acessível e acompanhamento multidisciplinar. No Brasil, o alto preço dos medicamentos e a ausência de políticas públicas dificultam a adesão e a continuidade.
De acordo com o Atlas da Obesidade 2024, da Federação Mundial de Obesidade, o país deve atingir 127 milhões de adultos com sobrepeso ou obesidade até 2035. Mesmo quando o tratamento resulta em emagrecimento expressivo, as chances de manter o peso apenas com mudanças de estilo de vida são de cerca de 10%.
A especialista destaca que a manutenção é tão importante quanto a perda. O acompanhamento médico e a reeducação alimentar são indispensáveis para evitar o ciclo de perda e ganho de peso. O uso dos agonistas do GLP-1 deve ser entendido como parte de um tratamento integrado, e não como solução isolada.
A combinação entre alimentação equilibrada, prática física regular, sono adequado, saúde emocional e suporte clínico constante segue sendo o pilar mais eficaz para resultados duradouros. O medicamento é uma ferramenta poderosa, mas não definitiva.
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