Mundo • 16:49h • 01 de novembro de 2025
O direito ao uso e cultivo de canabinoides no Brasil: entre a saúde e a justiça
Tema ganha força com avanço de decisões judiciais e reconhecimento científico do potencial terapêutico da cannabis medicinal
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com contribuições Dr. João Carlos Fazano Sciarini | Foto: Divulgação
O debate sobre o uso medicinal da cannabis vem se ampliando no Brasil, impulsionado por avanços científicos e decisões judiciais que reconhecem o direito de pacientes ao tratamento com substâncias extraídas da planta Cannabis sativa. Embora o tema ainda enfrente resistência social, o uso dos canabinoides — especialmente o canabidiol (CBD) e o tetra-hidrocanabinol (THC) — já é considerado uma alternativa segura e eficaz para o controle de sintomas em doenças crônicas e neurológicas.
O texto tem contribuição do advogado assisense Dr. João Carlos Fazano Sciarini, que escreveu sobre os aspectos legais e constitucionais do direito ao cultivo e ao uso de canabinoides no país.
Propriedades e aplicações terapêuticas
O CBD é o composto mais utilizado em tratamentos médicos e se destaca por não causar efeitos psicoativos, atuando como analgésico, anticonvulsivante, ansiolítico e neuroprotetor. O óleo de cannabis tem sido aplicado com resultados positivos em casos de epilepsia refratária, autismo, doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer, além de fibromialgia, ansiedade, depressão e dor crônica.
Estudos publicados em revistas científicas internacionais, como Frontiers in Pharmacology e The Lancet Neurology, e pareceres da Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecem o potencial terapêutico do canabidiol e recomendam sua ampliação em protocolos clínicos.
Crescimento da demanda e conscientização
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o número de autorizações para importação de produtos à base de cannabis cresceu mais de 500% nos últimos cinco anos. O aumento reflete a busca de pacientes por tratamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais do que os medicamentos convencionais. Famílias de crianças com epilepsia severa relatam redução significativa das crises e melhora no desenvolvimento e na qualidade de vida.
O que diz a Justiça brasileira
Apesar de a Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) ainda proibir o cultivo da planta, decisões recentes dos Tribunais Federais e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) têm assegurado o direito de pacientes ao plantio doméstico, desde que com prescrição médica, acompanhamento profissional e autorização judicial.
A ANVISA já regulamentou a importação e venda de medicamentos com canabidiol em farmácias, conforme a Resolução RDC nº 327/2019, mas o cultivo ainda depende de decisão judicial. Pacientes e familiares precisam ingressar com pedido de habeas corpus preventivo ou ação declaratória, a fim de garantir o direito ao plantio sem risco de penalidades criminais.
Importância da orientação jurídica e médica
O processo de autorização judicial requer relatórios médicos, laudos clínicos e prescrição detalhada do uso dos canabinoides, além de acompanhamento jurídico especializado. A atuação de advogados qualificados é essencial para assegurar que o procedimento ocorra de forma legal, segura e ética.
Saúde, dignidade e direito à vida
Para muitos pacientes, o tratamento com cannabis medicinal representa a única alternativa eficaz para aliviar sintomas graves e recuperar a qualidade de vida. A discussão sobre o tema, portanto, transcende o campo jurídico, alcançando o âmbito dos direitos humanos e da dignidade da pessoa.
O fortalecimento desse debate e o avanço de políticas públicas e decisões judiciais contribuem para um futuro em que o acesso aos canabinoides seja garantido de forma justa, regulamentada e humanizada, respeitando o direito de cada cidadão à saúde e à esperança.
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