Variedades • 19:22h • 09 de junho de 2025
O algoritmo que engana: por que você não vai ganhar no jogo do tigrinho
Especialistas alertam que apostas online como "deizão" e "tigrinho" não são jogos de sorte, mas sim sistemas programados para fazer você perder e influenciadores ajudam a ilusão a se espalhar entre os jovens
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Foto: Divulgação

O crescimento explosivo das chamadas "bets online", como o famoso jogo do tigrinho e o “deizão”, tem capturado o interesse — e o dinheiro — de milhões de jovens brasileiros. Prometendo ganhos rápidos e altos retornos com apostas simples, essas plataformas têm se espalhado nas redes sociais com o apoio de influenciadores que ostentam ganhos astronômicos e aparentemente fáceis.
Mas por trás do brilho das moedas animadas e das promessas de “apostar com responsabilidade”, há uma lógica implacável que precisa ser desmascarada: esses jogos não são movidos por sorte, mas por algoritmos projetados para fazer você perder.
Ao contrário da loteria tradicional, que é auditada com regras rigorosas como sorteios com bolas de pesos e tamanhos idênticos, transmissão ao vivo e fiscalização oficial, os jogos como o do tigrinho são baseados em algoritmos opacos, que não passam por auditoria pública e cuja programação é desconhecida para o apostador. Segundo especialistas da área de tecnologia da informação e segurança digital, o sistema premia não por sorte aleatória, mas por cálculo estatístico baseado em volume de apostas, padrões de comportamento e retorno financeiro à casa.
“Esses algoritmos são criados para que as apostas deem lucro à plataforma. O que parece aleatório na verdade é parte de um ciclo predefinido”, explica o analista de dados Diogo M. com experiência em segurança digital. Ou seja, não importa se o jogador apostou com um “deizão” ou seguiu simpatias como desconectar o Wi-Fi, mudar de local, ou apostar em determinados horários: as chances reais de lucro não estão sob controle do usuário.
A ilusão se aprofunda com a ação de influenciadores digitais, muitos dos quais têm contratos com as próprias plataformas. Nesses acordos, os perfis são privilegiados dentro do sistema para que tenham mais vitórias e ganhos aparentes. O objetivo é criar uma vitrine de sucesso que atrai novos usuários, fazendo com que jovens se sintam próximos da possibilidade de “ganhar fácil”. É uma dinâmica pensada para manipular: você vê alguém ganhando muito, acha que pode ser o próximo, aposta... e perde.
Além da falsa ideia de sorte, há o risco do endividamento e até mesmo do vício. Jovens relatam perder todo o salário em poucos dias, impulsionados por promessas irreais de multiplicação de dinheiro. “É muito além de falta de educação financeira. Estamos diante de um mecanismo que engana, que simula sorte, mas que na prática é programado para arrecadar e redistribuir os ganhos para beneficiar a casa e seus promotores”, alerta um educador, na área de tecnologia da informação, entrevistado para a matéria.
A aparência de simplicidade esconde um sistema matemático complexo, cuja lógica é favorecer a empresa operadora. Muitos aplicativos nem sequer têm sede no Brasil, dificultando qualquer tipo de regulação, controle ou punição legal. A promessa de “jogue com responsabilidade” é, na prática, uma isenção de culpa para plataformas que sabem que grande parte dos usuários vai perder — repetidamente.
Portanto, antes de cair na ilusão do “deizão da sorte” ou acreditar que está a um clique de enriquecer com o jogo do tigrinho, é importante entender: isso não é sorte. É um sistema controlado por algoritmos invisíveis, que operam com o único objetivo de captar dinheiro. E na maioria esmagadora dos casos, a casa sempre ganha.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Ciência e Tecnologia
Como se preparar para o primeiro apagão cibernético de 2025
Especialistas alertam para a necessidade de estratégias robustas para mitigar os impactos de um possível colapso digital