Ciência e Tecnologia • 18:36h • 01 de dezembro de 2025
Nova anomalia no 3I/ATLAS levanta hipótese inédita de mecanismo artificial no espaço
Padrão de pulsação nos jatos, mudanças inesperadas em dados da NASA e possível manobra próxima ao raio de Hill de Júpiter reacendem debate sobre origem não natural
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Foto: Divulgação/NASA
O objeto interestelar 3I/ATLAS, detectado pela primeira vez em julho deste ano, voltou a levantar questionamentos entre astrônomos após a identificação de uma nova anomalia: um padrão de pulsação periódico em seus jatos, com ciclos de 16,16 horas, que não se comporta como o esperado para um cometa natural. A hipótese de um mecanismo artificial — ainda não comprovada — ganhou força após análise do físico Avi Loeb, professor da Universidade Harvard, reconhecido por estudos sobre objetos interestelares.
O caso ganhou mais atenção quando Loeb afirmou que alterações foram feitas no banco de dados JPL Horizons, da NASA, dias depois de ele ter alertado pesquisadores sobre uma coincidência orbital envolvendo o 3I/ATLAS. Segundo ele, o objeto está se dirigindo exatamente para a região do raio de Hill de Júpiter, zona onde a gravidade do planeta e do Sol se equilibram e onde pontos de Lagrange proporcionam estabilidade ideal para sondas — um local considerado estrategicamente “perfeito” para estacionar instrumentos com baixo gasto de combustível.

Imagens reais do 3I/Atlas divulgadas pela comunidade científica | NASA
Pulsação de brilho não vem do núcleo, mas dos jatos — e isso muda tudo
A luz de 3I/ATLAS varia em dezenas de porcento a cada ciclo de 16,16 horas. A primeira interpretação sugeria que o núcleo estivesse girando. Porém, imagens do Telescópio Espacial Hubble, captadas em 21 de julho, indicam que quase toda a luz visível vem da coma, não do núcleo sólido, que pode ter apenas 2,8 km.
Se o núcleo responde por menos de 1% da luminosidade em certos comprimentos de onda, então a variação não pode ser explicada por rotação.
Loeb propõe outra leitura: os jatos estariam pulsando periodicamente, como um “batimento cardíaco”, injetando material na coma de forma rítmica.
Isso cria duas possibilidades:
- Objeto natural: A pulsação seria causada por uma grande bolsa de gelo em apenas um lado do núcleo. Quando essa área enfrenta o Sol, ela sublima e gera o jato — sempre voltado para a direção solar.
- Objeto artificial: Os jatos poderiam ter orientação arbitrária, sem necessidade de seguir o Sol, funcionando mais como propulsores do que como sublimação natural.
A orientação dos jatos, que será medida nas próximas semanas, será decisiva.
Mudança inesperada nos dados da NASA levanta suspeitas
Loeb afirma que, após publicar seus cálculos e enviar o link ao pesquisador Davide Farnocchia — responsável pelas atualizações das órbitas no programa da NASA — dois ajustes apareceram no sistema:
- O parâmetro A1, que mede acelerações não gravitacionais, foi reduzido para cerca de 10% do valor anterior;
- O modelo físico usado pela NASA para prever o comportamento do objeto deixou de assumir gelo de água e passou a usar um modelo baseado em dióxido de carbono, que sublimaria de forma distinta.
Para Loeb, a coincidência temporal é “estranha”, mas a NASA não comentou o motivo das alterações.
Manobra em dois planos orbitais? Outra anomalia entra na discussão
Outro objeto desperta interesse de Loeb: o R2-Swan, que teria trajetória quase perpendicular à de 3I/ATLAS. Ele sugere que dois objetos movendo-se em planos praticamente ortogonais poderiam representar uma estratégia semelhante a uma “manobra de pinça”, conhecida em táticas militares.

R2-Swan | Foto: NASA
Não há confirmação científica para essa hipótese, mas o padrão chamou a atenção da comunidade.
Rumo ao raio de Hill de Júpiter: coincidência ou destino calculado?
O 3I/ATLAS passará por Júpiter em 16 de março do próximo ano, exatamente na distância do raio de Hill, a fronteira onde a gravidade do planeta domina. Essa região abriga pontos de Lagrange — locais ideais para colocar sondas em órbita estável. Pesquisadores questionam se seria coincidência demais um objeto interestelar se dirigir justamente ao ponto de maior eficiência para liberar instrumentos ou permanecer em órbita.
A sonda Juno, da NASA, já foi instruída a monitorar possíveis sinais de rádio de baixa frequência durante a aproximação.
Campanha global de observação: centenas de telescópios monitorando 3I/ATLAS
A Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) iniciou uma campanha oficial de observação entre 27 de novembro e 27 de janeiro de 2026. Telescópios de todo o mundo registrarão dados detalhados da coma, dos jatos e da orientação real das emissões.
Os momentos-chave serão:
- 19 de dezembro – máxima aproximação com a Terra;
- 16 de março – passagem crítica próxima a Júpiter.
Essas datas podem fornecer as respostas mais sólidas sobre a verdadeira natureza de 3I/ATLAS.
Natural ou artificial? O que sabemos até agora
Cenário natural é possível, com jatos solares sublimando gelo.
Cenário artificial não pode ser descartado, devido a:
- Pulsação rítmica dos jatos;
- Coincidência orbital com o raio de Hill;
- Ajustes incomuns no banco de dados da NASA;
- Planos orbitais perpendiculares entre 3I/ATLAS e R2-Swan;
- Comportamento luminoso incompatível com um cometa típico.
A próxima janela de observação será decisiva para confirmar ou eliminar hipóteses.
O 3I/ATLAS se tornou o objeto interestelar mais intrigante desde Oumuamua. A soma das anomalias, a coincidência orbital envolvendo Júpiter e o padrão de pulsação levantam discussões legítimas, mas ainda sem conclusões definitivas.
As próximas semanas serão fundamentais. Ciência exige cautela — e dados — antes de qualquer afirmação. Até lá, o 3I/ATLAS segue desafiando modelos conhecidos e ampliando o debate sobre o que pode, ou não, ser considerado um sinal de tecnologia interestelar.
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