Variedades • 20:35h • 25 de novembro de 2025
Nossa língua é “coisa de índio” e guarda a força das palavras ao longo da história
Reflexão da jornalista Rosário Maiettini retoma origens, influências e transformações do idioma, destacando o impacto cultural e emocional das palavras no cotidiano
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com contribuições Rosário Maiettini | Foto: Divulgação
A forma como usamos as palavras, seus sentidos e seu impacto na sociedade molda muito mais do que conversas: define comportamentos, emoções, relações e até a percepção que temos uns dos outros. A reflexão proposta pela jornalista Rosário Maiettini destaca como a língua — viva, em constante mutação — acompanha a história humana e expressa nossas disputas, contradições, afetos e identidades.
No contexto contemporâneo, em que debates públicos, políticos e culturais se intensificam, a escolha das palavras assume peso ainda maior. A autora lembra que termos de origens tão diversas como o grego, o latim, o hebraico ou o alemão estão presentes diariamente nas conversas e nas narrativas sociais. Democracia, fascismo, Babel e Schadenfreude são exemplos de vocábulos que carregam significados profundos e, quando mobilizados de maneira indiscriminada, podem transformar debates em ruídos.
A gíria — símbolo da criatividade popular — também integra essa dinâmica. Termos como perrengue revelam a força cultural de uma língua que se reinventa a partir das pessoas, das ruas e das emoções. “As palavras excitam a mente e exaltam o espírito”, destaca Maiettini, lembrando que compreender seus sentidos exige curiosidade, abertura e responsabilidade.
O texto também resgata o poder das línguas originárias do Brasil. O tupi-guarani, base cultural e histórica do país, foi por séculos um idioma estruturante da comunicação entre povos. Em 1758, o Marquês de Pombal proibiu seu uso, apagando não apenas palavras, mas memórias. Mesmo assim, vestígios desse legado permanecem em nomes, expressões e estruturas que ainda compõem o português brasileiro.
A jornalista também reforça que palavras comuns como sim e não, embora curtas, exigem reflexão — e que o diálogo ganha mais força quando incorporamos expressões como “eu não sei”, que abrem espaço para escuta e construção coletiva. A defesa da voz, do pensamento crítico e do direito de expressão aparece como ponto central da análise.
As diferentes tradições linguísticas, sejam elas indígenas, africanas, europeias ou de outras origens, compõem o mosaico que forma a língua que falamos hoje. A autora cita Ribeiro Couto para ilustrar essa união: “Língua que fostes de uns e fostes de outros (…) Que bom haver quem como nós te queira”.
A reflexão reforça que a língua não é apenas instrumento de comunicação, mas patrimônio vivo, atravessado por histórias, conflitos e afetos — e que seu futuro depende da forma como continuamos a usá-la e preservá-la.
*Este texto conta com a colaboração da jornalista Rosário Maiettini, autora de “Volta ao mundo em 280 páginas – Do crepúsculo ao alvorecer”.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo