Responsabilidade Social • 19:22h • 10 de novembro de 2025
Mulheres trans têm próstata: especialistas reforçam cuidados e prevenção durante o Novembro Azul
Campanha de conscientização sobre o câncer de próstata precisa incluir mulheres trans e pessoas não binárias, reforçando o acolhimento e a importância do diagnóstico precoce
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Lume Press | Foto: Arquivo/Âncora1
O Novembro Azul, campanha internacional de conscientização sobre o câncer de próstata, está em andamento e segue até o dia 30 de novembro, com o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata celebrado no dia 17. Durante o período, profissionais da saúde reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessa doença, que é o segundo tipo de câncer mais comum entre pessoas com próstata.
Mas um grupo ainda pouco lembrado nessa conversa são as mulheres trans, que, mesmo após a transição, mantêm a próstata e também podem desenvolver doenças prostáticas, incluindo o câncer.
“É fundamental que o Novembro Azul também contemple as mulheres trans. A próstata não é retirada durante a cirurgia de afirmação de gênero. Por isso, os cuidados e os exames preventivos continuam necessários”, explica Dr. José Carlos Martins Jr., cirurgião e fundador da Transgender Center Brazil, referência nacional em cirurgia e saúde transgênero.
Pesquisas publicadas em periódicos internacionais, como The Lancet e JAMA Network Open, indicam que o risco de câncer de próstata em mulheres trans é menor do que em homens cisgênero, especialmente naquelas que fazem uso contínuo de hormônios feminilizantes e bloqueadores de testosterona.
Ainda assim, o risco não é inexistente. “A terapia hormonal reduz a atividade da próstata, mas não elimina completamente a possibilidade de surgirem alterações ou tumores. O problema é que muitas vezes o exame de PSA fica subestimado — os valores caem muito e podem mascarar o diagnóstico”, alerta o especialista.
Ele recomenda que todas as pessoas com próstata façam acompanhamento regular, especialmente após os 50 anos, ou antes, caso haja histórico familiar.
Como fazer a prevenção
O rastreamento do câncer de próstata em mulheres trans segue os mesmos princípios aplicados aos homens cis, com algumas adaptações. O exame de PSA deve ter parâmetros ajustados, já que o uso de hormônios feminilizantes pode reduzir seus níveis. O exame físico pode ser realizado pelo toque vaginal, semelhante a um exame ginecológico de rotina, o que facilita a adesão das pacientes.
Em caso de sintomas ou alterações, o médico pode indicar exames de imagem complementares. O acompanhamento regular com urologistas experientes em saúde trans é essencial para garantir uma prevenção segura e acolhedora.
“Cuidar da próstata é um gesto de amor-próprio e respeito à própria história. A prevenção faz parte de viver a transição de forma plena e saudável”, reforça o Dr. Martins.
A psicóloga Priscila H.S. Martins, cofundadora da Transgender Center Brazil, lembra que o tabu e a vergonha ainda afastam muitas mulheres trans das consultas urológicas. “É muito comum que mulheres trans evitem falar sobre a próstata por medo de discriminação. Muitas acreditam que esse cuidado não é mais necessário após a cirurgia. Nosso papel, enquanto equipe, é acolher e informar sem julgamento. O corpo trans também precisa e merece atenção integral.”
Ela ressalta que campanhas como o Novembro Azul devem ser inclusivas, representando também pessoas trans e não binárias com próstata. “A prevenção salva vidas, e a informação é o primeiro passo. A campanha precisa falar com todos os corpos.”
Protocolos e recomendações científicas
As diretrizes da WPATH (World Professional Association for Transgender Health) e da American Urological Association reconhecem a necessidade de rastrear doenças prostáticas em mulheres trans, ajustando as estratégias de prevenção conforme o uso de hormônios e o histórico clínico.
A Transgender Center Brazil adota protocolos adaptados para o acompanhamento da saúde prostática em mulheres trans, priorizando a prevenção e o cuidado integral. Entre as medidas estão o monitoramento anual dos níveis de PSA, a realização de exames de imagem conforme a necessidade clínica e a avaliação conjunta das áreas psicológica e endocrinológica, garantindo uma visão ampla do bem-estar físico e emocional das pacientes.
Além disso, a instituição investe em educação em saúde, orientando sobre sinais de alerta, como dor pélvica, dificuldade para urinar e alterações hormonais, incentivando a busca precoce por atendimento médico especializado.
Para o Dr. Martins, o maior desafio ainda é romper o silêncio e a desinformação que cercam o tema. “Quando se fala em câncer de próstata, ainda há uma visão restrita ao homem cis. É hora de atualizar esse discurso e lembrar que o Novembro Azul também é para todas as pessoas com próstata — mulheres trans e pessoas não binárias. O corpo muda, mas o cuidado continua essencial.”
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