Saúde • 20:31h • 12 de agosto de 2025
Mototáxi por aplicativos é tragédia anunciada, diz pesquisador do Ipea
Disseminação de serviços elevará número de mortes, prevê especialista
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Arquivo Âncora1

A expansão dos serviços de transporte de passageiros por motociclistas de aplicativos é vista como “uma tragédia anunciada” em um cenário já marcado pela alta mortalidade no trânsito. O alerta é do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Erivelton Guedes, doutor em engenharia de transporte e um dos responsáveis por incluir as mortes no trânsito no Atlas da Violência 2025.
“Qualquer regulamentação pode acabar incentivando e dando a falsa impressão de segurança. Vejo com muito pessimismo essa evolução”, afirmou à Agência Brasil.
A declaração integra a quarta reportagem da série Rota Perigosa, que analisa o avanço de corridas por aplicativos como Uber Moto e 99Moto e os riscos envolvidos.
Lançado em 2020, o Uber Moto já foi usado por cerca de 20 milhões de brasileiros – quase 10% da população – em viagens realizadas por 800 mil motociclistas. A 99Moto estreou em 2022 e hoje atua em mais de 3,3 mil cidades, somando 1 bilhão de corridas.
Mortes em alta
O Atlas da Violência 2025, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que, enquanto homicídios caem, as mortes no trânsito crescem desde 2020.
Foram 31.945 vítimas em 2019 e 34.881 em 2023. No mesmo período, as mortes em acidentes com motos saltaram de 11.182 para 13.477, representando, no último ano, uma em cada três mortes no trânsito.
“O passageiro é mais vulnerável que o condutor, porque não controla o veículo e nem sempre sabe como se comportar na garupa”, diz Guedes. Segundo ele, roupas e equipamentos inadequados agravam o risco: “Idealmente, condutor e passageiro deveriam usar botas, calça e jaqueta de couro, além de capacete. Mas o que vemos é gente de sandália, roupa curta e celular na mão.”
Letalidade 17 vezes maior
O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Antonio Meira Júnior, reforça a gravidade: “A probabilidade de morte em acidente de moto é 17 vezes maior que em um carro.”
Ele destaca que motociclistas e passageiros não têm proteção contra impactos, circulam entre veículos maiores e enfrentam riscos extras, como buracos e detritos na pista. “O resultado são lesões graves, internações prolongadas e sequelas permanentes. Muitas pessoas ficam incapacitadas para o trabalho e dependem de cuidados pelo resto da vida.”
Quando uma queda “simples” vira problema
A assistente social Erika Rogatti, 35 anos, moradora da zona norte do Rio, já usava motos de aplicativo para driblar baldeações e reduzir custos. Em abril, a caminho de um show, sofreu uma queda em baixa velocidade ao parar no sinal. A moto tombou sobre sua perna esquerda, causando fissura no dedão, hematomas e afastamento do trabalho por mais de 20 dias. Quatro meses depois, ela ainda sente dores e inchaço.
Apesar disso, Erika voltou a usar o serviço. “É mais barato e rápido. Não tenho outra opção prática”, afirma.
Falta de alternativas
Para o professor Glaydston Ribeiro, da Coppe/UFRJ, a popularização das motos está ligada à má qualidade do transporte público, especialmente nas periferias. “Com oferta precária e sem integração tarifária, a moto se torna a solução possível para trabalhar, estudar e acessar serviços.”
Segundo ele, proibir os aplicativos penalizaria os mais pobres: “É preciso ampliar as opções de mobilidade, não punir quem já está vulnerável.”
O que dizem as empresas
A Uber afirma priorizar a segurança, com recursos como selfies para verificar a identidade do condutor, alerta de velocidade, exigência de CNH definitiva categoria A e seguro para passageiros e motociclistas.
Já a 99 diz que investe em conscientização, oferece seguro e orientações de segurança para usuários e condutores. A empresa alega que apenas 0,0003% das viagens tiveram acidentes e que sua taxa de sinistros fatais é quatro vezes menor que a média nacional para motos.
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