Saúde • 07:58h • 16 de outubro de 2024
Fiocruz vai liderar primeiro teste clínico de uma vacina para hanseníase no Brasil
O Instituto foi escolhido como centro clínico responsável pelos testes por sua larga contribuição científica nos estudos de hanseníase
Da Redação/Agência Gov | Foto: Gutemberg Brito
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) iniciará os testes clínicos de uma vacina inovadora contra a hanseníase no Brasil. Batizada de LepVax, a vacina será a primeira específica para a doença a ser avaliada no país, com autorização concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última segunda-feira (14/10).
A escolha do IOC/Fiocruz como centro clínico responsável se deve à sua extensa experiência em estudos e atendimento voltados para a hanseníase. O Laboratório de Hanseníase do instituto integra o Serviço de Referência Nacional em Hanseníase, vinculado ao Ministério da Saúde, e possui infraestrutura avançada e equipe multidisciplinar, especializada em análises imunológicas e moleculares.
O ensaio clínico é patrocinado por Bio-Manguinhos/Fiocruz, com apoio financeiro da American Leprosy Missions (ALM), organização dos Estados Unidos que lidera o desenvolvimento da LepVax desde 2002. A pesquisa no Brasil também conta com financiamento do Ministério da Saúde e do fundo japonês GHIT Fund, além de colaboração da Fundação de Saúde Sasakawa, do Japão.
Se os resultados forem positivos, a LepVax poderá futuramente integrar o calendário nacional de imunizações, contribuindo para o controle da hanseníase em um país que registra o segundo maior número de casos no mundo, atrás apenas da Índia. De 2014 a 2023, o Brasil notificou quase 245 mil novas infecções; somente em 2023 foram 22.773 novos casos.
Uma doença negligenciada e estigmatizada
Embora tenha cura por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), a hanseníase é marcada por estigma e desinformação. A doença pode causar lesões graves na pele e nervos, levando à perda de sensibilidade e mobilidade, além de comprometer a qualidade de vida dos pacientes. Muitas vezes, o diagnóstico é tardio, o que agrava as sequelas.
Para Verônica Schmitz, líder científica do ensaio clínico da LepVax e chefe substituta do Laboratório de Hanseníase do IOC/Fiocruz, o início dos testes representa um marco histórico. “O Brasil concentra 90% dos casos de hanseníase nas Américas. A cada quatro minutos, um novo caso é registrado no mundo. A OMS já indicou a necessidade de novas ferramentas, e as pessoas afetadas merecem uma vacina”, destaca a imunologista.
A hanseníase afeta 120 países e, anualmente, cerca de 200 mil novos casos são reportados, especialmente em populações vulneráveis. Apesar de ser uma doença antiga, com registros de mais de quatro mil anos, ainda não existe uma vacina específica. A BCG, usada em alguns países para proteção parcial, oferece apenas uma barreira limitada.
LepVax: inovação no combate à hanseníase
Desenvolvida pelo Access to Advanced Health Institute (AAHI), nos Estados Unidos, a LepVax é a primeira vacina específica contra a bactéria Mycobacterium leprae. Baseada em tecnologia de subunidade proteica, a vacina apresentou resultados promissores em testes pré-clínicos.
Experimentos em camundongos mostraram que a vacina reduziu significativamente a infecção mesmo em exposições elevadas. Em tatus, modelo usado para avaliar os danos neurológicos da hanseníase, a aplicação da vacina após a infecção retardou a progressão dos sintomas.
Nos testes de fase 1a, realizados nos Estados Unidos, 24 voluntários saudáveis receberam a vacina, que demonstrou segurança e capacidade de induzir uma resposta imunológica eficaz, sem efeitos adversos graves.
Desafios e metas para o futuro
A OMS traçou uma estratégia global para interromper a transmissão da hanseníase até 2030. No Brasil, onde a doença ainda é um problema de saúde pública, o Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente foi criado para reforçar o combate a doenças negligenciadas. O grupo, liderado pelo Ministério da Saúde, reúne representantes de nove ministérios e busca enfrentar essas enfermidades, muitas vezes associadas à pobreza e outros fatores sociais.
Entre as metas estabelecidas para 2030 estão a interrupção da transmissão em 99% dos municípios, a eliminação da hanseníase em 75% das cidades e a redução de 30% dos casos com incapacidade física no diagnóstico.
Roberta Olmo, chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC/Fiocruz, acredita que a LepVax poderá ter um impacto decisivo na luta contra a doença: “A vacina é uma ferramenta crucial para acelerar o avanço em direção a um futuro sem hanseníase”.
Com a LepVax, o Brasil dá um passo importante na busca por inovações que possam transformar a vida de milhares de pessoas, superando o estigma e promovendo saúde e inclusão.
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