Variedades • 21:10h • 07 de novembro de 2025
Fim de ano pode aumentar tristeza e ansiedade; como lidar com a solidão e o luto neste período
Período festivo pode intensificar sentimentos de tristeza e ansiedade; psicólogo explica causas e aponta caminhos terapêuticos para lidar com o encerramento de ciclos
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
As festas de fim de ano, marcadas por encontros familiares e celebrações, também podem despertar sentimentos de solidão e melancolia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023), os diagnósticos de depressão e ansiedade aumentam cerca de 20% entre dezembro e janeiro nas Américas e na Europa. No Brasil, levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2024) revela que 32% das pessoas afirmam sentir-se mais ansiosas ou tristes nesse período.
Para o psicólogo Jair Soares dos Santos, doutorando em Psicologia pela Universidade de Flores (UFLO), na Argentina, e fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT), esse fenômeno está diretamente ligado à carga simbólica do encerramento de ciclos. “O fim do ano funciona como um marcador simbólico. Ele desperta lembranças, comparações e lutos, inclusive os que nunca foram elaborados. É um período em que o inconsciente faz um balanço emocional, e nem sempre o resultado é leve”, explica.
Quando o fim do ano acende o alerta emocional
Reconhecido pela OMS desde 2020, o transtorno afetivo sazonal — conhecido popularmente como “depressão de fim de ano” pode intensificar sintomas de apatia e isolamento. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP, 2024) apontou que 46% das pessoas que vivenciaram uma perda significativa relatam maior sofrimento emocional durante o Natal e o Réveillon.
“O reencontro com familiares pode reativar memórias dolorosas e emoções antigas. Em muitos casos, há a tentativa de manter aparências, mas o corpo e a mente sentem o peso emocional desse esforço”, afirma Soares. Segundo o especialista, sintomas como insônia, irritabilidade e tensão muscular são expressões físicas de dores não acolhidas.
Terapia e reprocessamento das emoções
Para enfrentar esse tipo de sofrimento, o psicólogo destaca a importância de métodos terapêuticos que tratem a origem das emoções, e não apenas os sintomas. Desenvolvida por ele e aplicada no IBFT, a Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG) propõe acessar e reorganizar memórias emocionais que permanecem ativas no inconsciente.
“A TRG atua no reprocessamento de experiências marcantes que moldaram a forma como a pessoa reage ao mundo. O objetivo não é apenas ressignificar o passado, mas desativar os gatilhos que ainda produzem dor emocional. Quando o cérebro entende que o perigo já passou, o corpo para de reagir como se ainda estivesse em ameaça”, explica Soares.
Pesquisas conduzidas pelo IBFT em parceria com a UFLO (2024) indicam redução significativa de sintomas de ansiedade e depressão entre os pacientes submetidos ao método. “É um processo seguro e humanizado, que não exige reviver traumas nem verbalizá-los diretamente. Isso é fundamental, especialmente em períodos emocionalmente sensíveis como o fim do ano”, reforça o psicólogo.
A solidão e o desafio do reencontro
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, Censo 2022) mostram que mais de 15 milhões de brasileiros vivem sozinhos, número que cresceu 43% em uma década. Especialistas apontam que a solidão é um fenômeno social crescente, potencializado pelas redes e pelas rupturas familiares. “Estar só não é o problema. O sofrimento vem quando a pessoa se sente desconectada de si e dos outros. A TRG trabalha justamente essa reconexão emocional, ajudando o indivíduo a recuperar o sentimento de pertencimento”, explica Soares.
O luto, por sua vez, tende a se intensificar nessa época. “A dor da ausência é natural, mas muitas vezes tentamos contê-la para não estragar o clima. Permitir-se sentir é o primeiro passo para reorganizar a vida emocional”, orienta.
Um novo significado para o fim de ano
Para o especialista, o encerramento do ano pode ser um convite à introspecção e não à obrigatoriedade da festa. “O fim do ano pode ser o momento de se reencontrar com o que ficou suspenso, afetos, memórias, arrependimentos. A cura não vem do esquecimento, mas da compreensão do que cada experiência representou”, afirma.
Ele recomenda criar rituais pessoais simples, como escrever uma carta de despedida ao ano que termina, realizar uma caminhada ao ar livre ou reservar um tempo para o silêncio e a reflexão. “Quando o indivíduo se permite esse espaço, o corpo e a mente compreendem o fechamento simbólico do ciclo. Isso traz paz, mesmo que não haja comemoração”, orienta.
Encerrando, Soares reforça a importância do autocuidado: “Antes de buscar celebrar com os outros, celebre o fato de estar vivo. A presença em si já é motivo suficiente para agradecer, mesmo nos dias em que o silêncio é o único convite possível.”
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