Saúde • 09:49h • 26 de maio de 2025
Falta de protocolos no SUS escancara desigualdade no tratamento do câncer no Brasil
Fórum em Brasília reúne especialistas e autoridades para debater soluções regionais diante das fragilidades no cuidado oncológico, reveladas por pesquisa do Instituto Oncoguia
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Mention | Foto: Divulgação

O acesso ao tratamento oncológico no Brasil ainda está longe de ser igualitário. Dados da segunda edição da pesquisa “Meu SUS é diferente do seu SUS”, conduzida pelo Instituto Oncoguia, revelam uma realidade preocupante: 69% dos hospitais habilitados em oncologia no país não possuem protocolos clínicos formais para todos os tipos de câncer analisados, o que evidencia uma grave falta de padronização no atendimento pelo SUS.
Os números foram apresentados durante o Fórum Itinerante “Câncer: um problema de todos nós”, realizado no dia 21 de maio em Brasília, e que reuniu pacientes, profissionais de saúde, gestores, representantes da sociedade civil e autoridades públicas. O evento é parte de uma série de encontros regionais que percorrem as cinco regiões do país, buscando propor soluções concretas para os desafios enfrentados pelos pacientes oncológicos na rede pública.
O levantamento, feito com base em pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), mapeou a existência de protocolos para câncer de mama, próstata, pulmão, colorretal e melanoma. Dos hospitais que responderam, apenas 20% enviaram dados considerados válidos, enquanto a maioria apresentou informações incompletas ou sequer respondeu.
Na região Centro-Oeste, a situação é alarmante. Apenas sete hospitais responderam, e, destes, somente um apresentou protocolos completos para todos os tipos de câncer pesquisados, especialmente os de colorretal e melanoma, que possuem altas taxas de sobrevida quando diagnosticados e tratados precocemente. O levantamento também mostrou que o Distrito Federal foi o único estado da região onde todos os hospitais forneceram protocolos válidos, enquanto o Mato Grosso não apresentou nenhuma informação.
Para Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, os dados reforçam que o cuidado com pacientes com câncer no SUS depende mais da estrutura de cada hospital do que de uma política nacional efetiva. “O câncer não espera. É inadmissível que o acesso ao tratamento dependa do CEP do paciente. Precisamos de um SUS mais justo, com protocolos claros e aplicáveis em todo o país”, alerta.
O Fórum acontece em um momento crucial, com a implementação da Nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer e do Programa Mais Acesso aos Especialistas (PMAE), iniciativas do Ministério da Saúde. Para Luciana, é essencial que essas políticas levem em conta as desigualdades regionais reveladas pela pesquisa. “Nosso objetivo é transformar esses dados em ações. O Fórum é um espaço de escuta, articulação e cobrança por melhorias reais no cuidado oncológico”, completa.
Além dos dados, o evento promoveu mesas de debate, painéis temáticos e momentos de escuta ativa, reunindo relatos de pacientes e profissionais da linha de frente. A proposta é que os encaminhamentos do encontro sirvam de base para fortalecer o SUS, promover mais equidade no tratamento e garantir que políticas públicas saiam do papel e se tornem realidade para todos os brasileiros.
Sobre o Instituto Oncoguia
O Oncoguia é uma organização sem fins lucrativos que há 15 anos apoia, informa e defende os direitos dos pacientes com câncer. Atua por meio de projetos focados em informação de qualidade, educação em saúde, orientação, apoio emocional e advocacy. A instituição também oferece um canal gratuito de atendimento pelo 0800 773 1666, que esclarece dúvidas e auxilia pacientes na busca por direitos e qualidade de vida durante o tratamento.
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