Cultura e Entretenimento • 15:24h • 17 de maio de 2025
Falada em cinco continentes, língua portuguesa ainda é pouco conhecida
Falta de intimidade com idioma foi primeiro preconceito, diz congolês
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O artista plástico congolês Serge Makanzu Kiala, de 43 anos, vive no Rio de Janeiro desde 2016. Quando chegou ao país, não falava português. Seu primeiro contato com o idioma se deu por meio de aulas oferecidas pela Cáritas Brasil, organização que acolhe refugiados e migrantes. O curso de espanhol que havia feito antes de sair do Congo também ajudou a estabelecer as primeiras conversas.
Durante oito anos, Serge trabalhou no atendimento a visitantes do Museu do Amanhã — experiência que ele considera fundamental para sua adaptação ao idioma e à cultura brasileira. “O que mais me ajudou a falar português foi meu trabalho. O contato diário com o público no museu, com os cariocas, me deu mais acessibilidade para entender a língua”, contou em entrevista à Agência Brasil.
Mesmo tendo deixado o cargo recentemente, Serge segue empenhado em aprimorar o domínio do português. “Falar é uma parte. Escrever e ler completam o aprendizado. Ainda tenho dificuldades com o português escrito, especialmente em testes longos. Mas sigo praticando para melhorar”, afirmou.
Preconceito e desinformação
Em 2023, durante o Festival Back2Black, no Rio, Serge compartilhou uma experiência recorrente entre imigrantes: o preconceito linguístico. Segundo ele, a barreira com o idioma foi o primeiro obstáculo enfrentado no país. “Mesmo hoje, falando português com sotaque francês, ainda passo por situações de preconceito”, relata.
Uma das dificuldades está ligada ao desconhecimento sobre a diversidade africana. “Muitos brasileiros não sabem quase nada sobre a África. Sempre me chamam de angolano, mesmo depois de eu explicar que sou do Congo. Perguntam: ‘Onde fica o Congo?’. No dia seguinte, me chamam de novo de angolano”, lamenta.
Apesar dos desafios, Serge enxerga semelhanças entre o português e o francês, sua língua nativa, o que tem ajudado na superação das barreiras linguísticas.
Um idioma global, mas ainda pouco difundido
A experiência de Serge reflete um desafio maior enfrentado por falantes de outras línguas ao aprender o português — uma das línguas mais faladas do mundo, mas que ainda enfrenta limitações em termos de projeção internacional.
Atualmente, mais de 280 milhões de pessoas falam português em cinco continentes. Ainda assim, o idioma não é reconhecido oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU), como destacou o diretor-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Armindo Fernandes, durante evento comemorativo ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, em 5 de maio, em São Tomé e Príncipe.
O português foi oficialmente reconhecido como idioma internacional em 2019, após proclamação da Unesco. A data de 5 de maio foi instituída pela CPLP em 2009 como celebração anual da língua comum aos países-membros.
Reconhecimento internacional
Para o vice-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antônio Carlos Secchin, a ausência do português como idioma oficial da ONU é um dos principais entraves para sua valorização global. “Há divergências entre o português falado no Brasil, em Portugal, Angola e Moçambique, o que dificulta esse reconhecimento. Mas isso precisa ser superado. O espanhol, o inglês e o francês já são línguas oficiais na ONU — o português também deveria ser”, afirmou.
Apesar disso, o acadêmico vê com otimismo a presença da língua portuguesa em diferentes regiões do mundo: “A vitalidade do idioma é evidente. Está presente na Europa, América, África e Ásia. No entanto, o número de pessoas que adotam o português como segunda ou terceira língua ainda é pequeno. E isso é fundamental para ampliar sua projeção internacional.”
Segundo Secchin, a relevância de um idioma não se mede apenas pelo número de falantes nativos, mas por sua adoção global. “O mandarim, por exemplo, é a língua mais falada do mundo por causa da população chinesa, mas são poucos os não chineses que o aprendem. O desafio do português é crescer nesse aspecto.”
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