Saúde • 10:48h • 05 de dezembro de 2025
Estudo aponta que apostas online geram prejuízo anual de R$ 38,8 bilhões ao Brasil
Pesquisa inédita mostra que as bets causam perdas sociais e econômicas expressivas, impulsionadas pelo aumento do endividamento, impactos na saúde mental e baixa arrecadação pública. O relatório também propõe medidas para reduzir danos e reforçar a regulação do setor
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Arquivo Âncora1
Jogos de azar e apostas online, popularizados pelas chamadas bets, geram prejuízos estimados em R$ 38,8 bilhões por ano ao Brasil. O valor corresponde a perdas econômicas e sociais, incluindo suicídios, desemprego, gastos em saúde e afastamentos do trabalho. Os dados são do estudo A saúde dos brasileiros em jogo, divulgado na terça-feira (2), que analisa os impactos da expansão das apostas online no país.
Para dimensionar esse montante, os pesquisadores comparam a estimativa às despesas públicas: os R$ 38,8 bilhões equivalem a um aumento de 26% no orçamento do Minha Casa, Minha Vida de 2024, ou 23% a mais no Bolsa Família deste ano. O estudo é uma parceria entre o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), a Umane e a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM).
Segundo o levantamento, 17,7 milhões de brasileiros apostaram em bets em apenas seis meses, e cerca de 12,8 milhões estão em situação de risco. Inspirado em um modelo britânico, o estudo estima perdas como R$ 17 bilhões relacionados a mortes por suicídio, R$ 10,4 bilhões em perda de qualidade de vida por depressão e R$ 3 bilhões em tratamentos médicos. Outros custos incluem seguro-desemprego, encarceramento e perda de moradia. Desse total, quase 79% estão diretamente associados à saúde.
Os pesquisadores alertam que o rápido crescimento das apostas online, impulsionado pela tecnologia, forte exposição na mídia e falta de regulação efetiva, agrava o endividamento das famílias e os casos de transtorno do jogo, aumentando o impacto sobre a saúde mental.
Mesmo com crescimento do setor, o retorno econômico é considerado baixo. De acordo com o Banco Central, os brasileiros movimentaram R$ 240 bilhões em bets em 2024. Até setembro, a arrecadação de impostos foi de R$ 6,8 bilhões — valor muito inferior ao custo social projetado. Atualmente, as bets pagam 12% de imposto sobre a receita bruta, e o Senado discute o aumento para 24%. Apesar disso, apenas 1% da arrecadação é destinada ao Ministério da Saúde.
O estudo também destaca a baixa geração de empregos: o setor tinha apenas 1.144 vagas formais e remunera, em média, menos de 1% do que arrecada por trabalhador. Além disso, 84% dos profissionais atuam na informalidade.
Para enfrentar o problema, o relatório apresenta medidas adotadas no Reino Unido, como autoexclusão, restrição rigorosa de publicidade e destinação de parte dos impostos à saúde. Para o Brasil, os especialistas sugerem ampliar o financiamento à saúde mental, capacitar profissionais do SUS, proibir propagandas, restringir o acesso de grupos vulneráveis e impor regras mais duras às empresas.
A diretora do Ieps, Rebeca Freitas, afirma que, sem regulação firme e fiscalização, aumentam os riscos de adoecimento e endividamento. Para ela, proteger a população deve ser o foco central das políticas públicas sobre o tema.
O debate sobre os impactos das bets já chegou ao Congresso. A CPI das Bets investigou o setor, mas seu relatório final, que recomendava o indiciamento de 16 pessoas, foi rejeitado — algo inédito em uma década de CPIs no Senado.
Do outro lado, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa 75% do mercado legal, argumenta que aumentar impostos pode fortalecer o mercado clandestino, onde, segundo a entidade, mais de metade das apostas já circulam.
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