Saúde • 13:01h • 23 de setembro de 2025
Especialistas defendem atenção específica para saúde da pele negra
Formação de dermatologistas precisa incluir diversidade racial
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Arquivo Âncora1

O médico Thales de Oliveira Rios convivia com a oleosidade da pele e a acne desde a adolescência. Ao longo dos anos, passou por diversos tratamentos sem resultados satisfatórios e se incomodava bastante com as manchas deixadas pelas espinhas. A mudança veio após um convite especial de um colega dermatologista.
“Um belo dia, resolvi ir ao consultório dele, e a coisa mudou da água para o vinho. Com um tratamento voltado para o meu tipo de pele, produtos adequados para clarear e o protetor solar certo, em três ou quatro meses tudo ficou diferente. Melhorou bastante”, relata.
Thales, homem negro, não imaginava que os tratamentos para a pele precisavam considerar a cor como ponto de partida.
“Eu lembro da primeira consulta, quando ele me mostrou imagens de um livro que ajudou a escrever. A apresentação de certas lesões varia conforme o tom da pele: em pessoas brancas é de um jeito, em pessoas pardas de outro, e em pessoas negras retintas, totalmente diferente. A gente não vê isso na faculdade de medicina. Esse tema só começou a entrar nas discussões acadêmicas há pouquíssimo tempo”, conta.
O colega citado é Cauê Cedar, chefe do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Desde a especialização, ele se dedica a estudar as demandas específicas de pessoas pretas e pardas, maioria da população brasileira. Mas, segundo o dermatologista, a formação médica não acompanhava essa realidade.
“Os materiais que formam os médicos são, em grande parte, baseados em pessoas de pele clara. Por isso, muitos profissionais não têm preparo para identificar como determinadas condições aparecem na pele negra”, explica.
Ele lembra também de particularidades: maior tendência a manchas, cicatrização hipertrófica (com formação de queloides) e cuidados específicos com cabelos cacheados e crespos. “Durante a residência, não tive treinamento específico sobre isso. Mesmo sendo uma pauta minha, precisei buscar esse conhecimento por fora”, diz Cedar.
A indústria de cosméticos e produtos dermatológicos também demorou a atender esse público. “Sempre soubemos da importância do protetor solar, mas os com cor nunca se adaptavam aos tons de pele negra, e os sem cor deixavam a pele com um fundo esbranquiçado ou acinzentado. Isso afastava as pessoas do uso. Só recentemente a indústria percebeu que os negros também consomem e passou a desenvolver produtos voltados para essa diversidade”, destaca.
Avanços no debate
Profissionais como Cedar vêm ajudando a consolidar o tema no meio acadêmico. Neste ano, pela primeira vez, o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia incluiu uma atividade dedicada exclusivamente aos cuidados com a pele negra. Além disso, a regional do Rio de Janeiro da entidade criou um Departamento de Pele Étnica, coordenado por Cauê Cedar.
Segundo a presidente da regional, Regina Schechtman, a iniciativa já estava atrasada. “O departamento busca ampliar o conhecimento dos profissionais e melhorar o atendimento a pessoas de diferentes grupos não brancos, como indígenas, orientais e negros”, afirma.
Ela ressalta que qualquer médico ou profissional da saúde deve incluir esse saber em sua prática. “A dermatoscopia, exame básico da dermatologia, é totalmente diferente dependendo do tom de pele, e os médicos precisam saber interpretar”, reforça.
Para Regina, é importante lembrar que problemas dermatológicos afetam diretamente a autoestima dos pacientes — e que a pele, maior órgão do corpo humano, também pode esconder riscos graves.
“Muitas doenças atingem a pele, e a mais perigosa é o câncer, que também afeta a população negra. Embora o risco seja maior em pessoas de pele clara, isso não significa que os negros não precisem se proteger contra os danos causados pela radiação ultravioleta”, conclui.
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