Ciência e Tecnologia • 12:12h • 19 de janeiro de 2025
Escanear a íris para ganhar criptomoeda é um risco à sua privacidade; entenda
Especialistas alertam para os riscos do escaneamento de íris, especialmente no mercado clandestino, levantando questões sobre privacidade e uso de dados biométricos
Da Redação | Com informações da Agência Brasil | Foto: Arquivo/Âncora1
Recentemente, um novo modelo de verificação de “humanidade” tem atraído a atenção de muitos, especialmente na cidade de São Paulo, onde filas para escaneamento da íris se formam ao longo da Avenida Paulista. Pessoas estão aderindo ao processo para ganhar criptomoedas, mas muitas delas não sabem exatamente o que está por trás da coleta desses dados biométricos.
O processo é simples: após baixar um aplicativo e agendar um horário, os participantes são convidados a escanear a íris, uma das características mais únicas do ser humano, e registrar uma selfie. Em troca, recebem uma recompensa em "worldcoins", uma criptomoeda vinculada à plataforma que gerencia o sistema. Embora a proposta pareça simples e inofensiva, especialistas em privacidade e segurança digital alertam para os riscos dessa coleta de dados sensíveis.
Riscos de dados biométricos e segurança digital
De acordo com Nathan Paschoalini, pesquisador em governança e regulação da Data Privacy Brasil, a coleta da íris envolve um dado biométrico único, que, se mal administrado, pode representar riscos significativos à privacidade dos usuários. “A íris é uma característica que permanece inalterada ao longo da vida de uma pessoa, a não ser em casos de lesões, o que a torna extremamente precisa para a identificação”, explica Paschoalini.
O problema, segundo os especialistas, é que o escaneamento desses dados pode ser feito sem total transparência sobre como as informações serão armazenadas, compartilhadas ou até mesmo comercializadas. Além disso, as pessoas que aderem a esses sistemas, muitas vezes motivadas pela promessa de um pagamento rápido em criptomoedas, não têm plena consciência dos riscos envolvidos.
Fachada da empresa World, localizada na rua Carlos Sampaio em São Paulo, capital | Foto: Paulo Pinto
Mecanismo de verificação e a falta de informações
A empresa por trás do escaneamento da íris, a Tools for Humanity, promete que os dados coletados são criptografados e não armazenados, assegurando a privacidade dos usuários. No entanto, o que preocupa é a falta de clareza sobre os detalhes operacionais desse processo, como a real segurança do armazenamento dos dados ou se as promessas de anonimização são, de fato, cumpridas.
A gerente adjunta da Assessoria Jurídica do NIC.br, Karen Borges, ressalta que as populações mais vulneráveis podem ser exploradas, já que o pagamento de criptomoedas está diretamente vinculado ao fornecimento desses dados sensíveis.
“Estamos falando de um dado biométrico único, e qualquer falha no processo pode resultar em violação da privacidade ou até em situações de discriminação e exploração”, alerta Borges.
Legalidade e questões éticas
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil exige consentimento explícito e qualificado para o uso de dados biométricos. Contudo, a coleta feita pela Tools for Humanity levanta questionamentos sobre a forma como as pessoas estão sendo informadas sobre os riscos reais do processo.
Enquanto alguns defendem a tecnologia como um avanço contra as fraudes de identidade, outros temem que, sem regulamentação rigorosa, ela abra espaço para abusos.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) está acompanhando de perto a situação e iniciou uma fiscalização para garantir que o tratamento de dados esteja em conformidade com as leis de privacidade. O órgão solicitou à empresa responsável pela coleta de íris que forneça mais informações sobre o processo e como os dados dos usuários são protegidos.
O dilema das criptomoedas e a privacidade pessoal
Apesar das promessas de uma rede segura e descentralizada, os especialistas alertam que a troca de dados sensíveis por criptomoedas pode ser um modelo arriscado. “A privacidade e a segurança dos dados precisam ser priorizadas, e a coleta de informações sem uma clara finalidade e sem a transparência necessária é um terreno perigoso”, conclui Paschoalini.
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