Saúde • 13:40h • 07 de abril de 2025
Educação digital protege de malefícios do uso excessivo de telas
Professora da UFRJ defende uso responsável e atenção a menores
Da Redação com informações de Agência Brasil | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Hoje em dia, é cada vez mais comum começar o dia checando o celular, almoçar e jantar diante das telas. É difícil até imaginar a rotina sem internet, redes sociais ou tecnologia. Mas será que passar tantas horas conectado pode ser considerado um vício?
Para a psicóloga e doutora em saúde mental Anna Lucia Spear King, uma das fundadoras do Instituto Delete, nem sempre esse comportamento indica um vício patológico — muitas vezes, é apenas uma questão de falta de educação digital. Ela destaca que essa educação é essencial para evitar os danos causados pelo uso excessivo das telas.
Fundado em 2013 no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, o Instituto Delete é pioneiro no Brasil e um dos primeiros do mundo dedicados a estudar os impactos da tecnologia na saúde, além de orientar sobre o uso consciente dos dispositivos digitais.
Em entrevista à Agência Brasil, Anna Lucia falou sobre a relação atual das pessoas com a tecnologia e os cuidados necessários. Entre os principais pontos estão o risco de dependência de jogos e apostas online, além da atenção especial que crianças e adolescentes exigem para uma convivência saudável com o mundo digital.
Ela conta que muitas pessoas procuram o instituto achando que estão viciadas, quando, na verdade, só precisam mudar seus hábitos. “As pessoas confundem. Acham que, por usarem a tecnologia várias horas por dia, já são viciadas. Mas, na maioria das vezes, são apenas mal orientadas. Usam sem horário, sem limites, sem regras. Isso não exige tratamento, e sim educação digital”, explica.
Como tudo começou
Agência Brasil: O Instituto Delete foi criado antes mesmo da popularização dos smartphones. O que motivou esse trabalho? Como era o cenário na época?
Anna Lucia Spear King: Na época, eu trabalhava em um laboratório no Instituto de Psiquiatria da UFRJ e atendia muitos pacientes que se queixavam de dependência de tecnologia. Eles tinham transtornos como ansiedade, depressão e pânico, e acabavam se apegando ao celular ou computador. Mas, muitas vezes, esse uso excessivo era um reflexo de outro problema. Por exemplo, pessoas com fobia social preferiam se relacionar virtualmente, escondendo o transtorno. Havia também compulsivos por compras ou jogos online.
De lá para cá...
Agência Brasil: O cenário mudou desde então? A pandemia intensificou essa busca por ajuda?
Anna Lucia: Sim, o uso da tecnologia cresceu muito desde os anos 1990, e a pandemia acelerou ainda mais esse processo. Hoje, a maioria das pessoas é dependente da tecnologia, seja por trabalho ou lazer. Mas é importante diferenciar o uso constante do uso patológico — que é quando há nomofobia, ou seja, o medo irracional de ficar sem o celular. Esse sim é um quadro que exige tratamento.
Quando o uso se torna um problema
Agência Brasil: Como identificar a nomofobia?
Anna Lucia: A nomofobia geralmente está associada a algum transtorno mental, como depressão, ansiedade ou compulsão. Quando essa associação existe, o uso da tecnologia se intensifica e se torna patológico. Nesses casos, o Instituto Delete realiza uma avaliação psicológica e psiquiátrica. Se o uso for apenas desregrado, a pessoa aprende a usar a tecnologia de forma consciente. Mas, se for nomofobia, aí sim ela precisa de acompanhamento psicológico e, às vezes, medicamentoso.
Agência Brasil: Quando as pessoas percebem que precisam de ajuda?
Anna Lucia: Quando o uso começa a afetar a vida pessoal, familiar, acadêmica ou profissional. Problemas como brigas em casa, baixo rendimento escolar, demissão no trabalho por uso excessivo da tecnologia — são esses sinais que levam as pessoas até nós.
Vício em jogos e apostas
Agência Brasil: Vocês têm recebido muitos casos de dependência em jogos ou apostas online?
Anna Lucia: Sim, muitos. O tratamento envolve psicoterapia e, quando necessário, acompanhamento psiquiátrico. Mostramos para a pessoa os prejuízos reais: perdas financeiras, problemas familiares, isolamento. O jogo ativa áreas do cérebro relacionadas à recompensa e libera substâncias como dopamina, serotonina e endorfina, que causam prazer. Por isso, quando a realidade parece sem graça, a pessoa quer voltar ao ambiente que traz prazer: o jogo.
Redes sociais e a busca por validação
Agência Brasil: E isso também vale para redes sociais, certo?
Anna Lucia: Exatamente. Cada curtida ou elogio gera essa mesma liberação de substâncias no cérebro. Por isso, tanta gente se sente impelida a checar as redes o tempo todo em busca de validação.
O desafio com os jovens
Agência Brasil: Como lidar com o uso de tecnologia por crianças e adolescentes?
Anna Lucia: Os pais precisam assumir a responsabilidade pela vida digital dos filhos. Menores de idade não deveriam acessar a internet sem supervisão. A rede está cheia de riscos — de golpistas a pedófilos. Muitos pais não sabem orientar porque também não foram educados para isso. Mas são eles que pagam a internet, que permitem o uso desenfreado. É preciso estabelecer limites.
Celulares proibidos nas escolas
Agência Brasil: Como você vê a nova lei que restringe o uso de celulares nas escolas?
Anna Lucia: Acho excelente. A tecnologia deve ser usada com orientação do professor. Fora isso, os alunos precisam se socializar, praticar esportes, vencer a timidez. Celulares só atrapalham esse processo.
Dicas práticas para o uso saudável
Agência Brasil: Quais são as principais dicas para evitar o uso excessivo da tecnologia?
Anna Lucia: Evite usar o celular logo ao acordar. Levante, tome café, inicie o dia. Nada de telas nas refeições — aproveite o momento, sinta o sabor da comida. Desligue os dispositivos duas horas antes de dormir. Evite usar tecnologia em locais públicos, como ônibus ou salas de espera. E, ao sair com amigos, foque na interação presencial.
No ambiente de trabalho, use a tecnologia dentro do horário comercial e evite levar tarefas para casa. Do mesmo modo, não use os recursos da empresa para fins pessoais durante o expediente.
Nós, do Instituto Delete, não somos contra a tecnologia — muito pelo contrário. Somos a favor de um uso consciente, que traga benefícios e evite os prejuízos do uso exagerado.
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