Variedades • 20:44h • 13 de novembro de 2025
Do papel à tela: como preparar ilustradores infantis para um mercado em transição digital
Especialistas defendem a valorização do desenho manual e da criação autoral para formar profissionais preparados para um cenário cada vez mais tecnológico e acelerado
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Nova Ideia | Foto: Arquivo/Âncora1
A expansão do consumo de telas entre crianças, registrada em estudos internacionais, reacende o debate sobre o impacto das imagens no desenvolvimento infantil e coloca em evidência a necessidade de preparar novos ilustradores para um mercado que vive uma transição acelerada do analógico para o digital. O estudo do National Institutes of Health (NIH) aponta que o uso excessivo de dispositivos está associado a prejuízos na linguagem, na atenção e nas habilidades motoras, reforçando a importância das experiências visuais que priorizam profundidade e presença sensorial.
Segundo Guilherme Bevilaqua, conhecido como Prof. Laqua, ilustrador com 27 anos de carreira, esse cenário exige uma revisão urgente sobre como livros e imagens são produzidos para o público infantil. “Vivemos um momento de excesso visual e escassez de afeto nas imagens. As crianças recebem estímulos visuais prontos, pasteurizados e muitas vezes vazios de intenção. A ilustração feita à mão devolve presença, nuance e calor”, afirma.
Nos últimos anos, Laqua tem atuado para fortalecer a produção artística autoral como caminho para ressignificar narrativas visuais na infância. Para ele, ilustrar à mão é mais que técnica, é uma forma de transmitir textura emocional e subjetividade. “A ilustração manual é quase um gesto de resistência afetiva em um mundo acelerado. Quando o traço é vivo, ele respira junto com o leitor e cria uma conexão silenciosa, mas potente”, explica.
Em cursos de formação e oficinas voltadas à ilustração infantil, cresce o incentivo à criação de personagens próprios, projetos completos e linguagens visuais singulares, que fujam das tendências massificadas do ambiente digital. A proposta é reforçar o protagonismo do artista e sua capacidade de comunicar algo único por meio do desenho.
Eventos presenciais, como encontros de aquarela e rodas de conversa entre profissionais, também têm ganhado importância na construção de vínculos e na troca de experiências entre ilustradores, editores e leitores. “O retorno ao papel, ao olhar olho no olho, ao tempo da criação manual, é uma escolha intencional. Não é nostalgia, é lucidez”, destaca Laqua.
Diante do avanço das tecnologias de geração de imagem, o traço humano permanece como expressão insubstituível, especialmente para um público em formação. A missão do ilustrador infantil se amplia, deixando de ser apenas a criação de páginas coloridas para se tornar parte do desenvolvimento simbólico, emocional e imaginativo das crianças. “Quem trabalha com imagem para criança precisa entender que cada traço é uma conversa. E que essa conversa pode marcar uma vida inteira”, conclui o ilustrador.
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