Mundo • 13:12h • 07 de abril de 2025
Dia dos jornalistas: como conteúdos profissionais podem vencer fakes
Pesquisadores avaliam estratégias para combater desinformação
Da Redação com in formações de Agência Brasil | Foto: Freepik

De um lado, conteúdos que se disfarçam de notícia ou trazem um tom amador, mas que se apresentam como denúncias de irregularidades. Do outro, reportagens e matérias jornalísticas produzidas por profissionais, fundamentadas na apuração rigorosa e na checagem dos fatos. Eis o confronto atual.
Conquistar a atenção do público em meio a esse cenário tornou-se um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais da comunicação e pelos veículos jornalísticos. Esse debate ganha ainda mais relevância em datas simbólicas, como o Dia do Jornalista, celebrado nesta segunda-feira, 7 de abril.
Segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, o que está em jogo nessa disputa é o direito humano à informação e a própria saúde da democracia. Apesar da complexidade do contexto, estudiosos garantem que existem estratégias em diversas frentes para proteger a sociedade dos efeitos nocivos da desinformação.
O apelo da desinformação
O fascínio que parte da sociedade demonstra por conteúdos desinformativos pode ser compreendido, em parte, pela elitização histórica do acesso ao jornalismo profissional, até a chegada da internet no final do século XX. Para a pesquisadora Sílvia Dal Ben, doutoranda na Universidade do Texas, em Austin (EUA), a revolução digital promoveu uma verdadeira democratização — tanto do acesso quanto da produção de conteúdo.
Segundo ela, o jornalismo sensacionalista atrai leitores não só pelo estilo apelativo, mas também por se apoiar em tecnologias acessíveis que facilitam sua disseminação. “Nos últimos 30 anos, a democratização dos meios abriu espaço para que diferentes públicos tivessem contato com produções midiáticas às quais antes não tinham acesso”, avalia.
O problema é que esse processo também deu voz a conteúdos duvidosos, voltados à manipulação. “Vivemos hoje numa espécie de Torre de Babel: há excesso de informação, mas pouco entendimento mútuo”, reflete a pesquisadora.
Mudança de mentalidade
Sílvia critica a ideia, popularizada com o avanço da internet, de que a informação precisa ser sempre simples, curta e superficial. Para ela, esse conceito resultou em uma alfabetização digital rasa. “Jornalistas precisam romper com a lógica das ‘notinhas’ mal apuradas e pouco profundas”, afirma.
Ela acredita que, para fortalecer o jornalismo, é essencial investir em reportagens bem apuradas, com conteúdo de qualidade e estrutura adequada para dar tempo e recursos aos profissionais. A audiência se conquista com credibilidade, e não apenas com volume de acessos.
Mais apuração, menos ruído
A professora Fabiana Moraes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), defende que o jornalismo pode adotar estéticas semelhantes às das fake news para atrair o público — desde que o conteúdo seja sério e comprometido com a verdade. “A estética é a forma, mas ela deve ser preenchida com conteúdo profissional, bem escrito e apurado”, defende a premiada jornalista, com trajetória marcada por pautas de direitos humanos.
Para ela, a disputa também se dá em diferentes níveis: dentro e fora das redes sociais. As fake news ganham espaço pelo tom sensacionalista e pelo apelo emocional, com pouca profundidade informativa.
Distribuir bem também é essencial
Sílvia Dal Ben reforça que a distribuição de conteúdo precisa ser reavaliada. Os jornalistas devem se apropriar das mesmas ferramentas utilizadas por influenciadores digitais para difundir suas produções — usando formatos diversos e atrativos.
Nessa linha, a professora Thaïs de Mendonça Jorge, da Universidade de Brasília (UnB), aponta a necessidade de melhorar as estratégias de engajamento, especialmente em um contexto de queda do interesse pela leitura. “Precisamos ajudar o público a perceber como determinados temas são relevantes para suas vidas”, argumenta.
Ela coordenou a publicação do livro Desinformação - O mal do século, uma parceria entre a UnB e o Supremo Tribunal Federal, que analisa os efeitos das fake news sobre a democracia. Thaïs alerta para a estrutura organizada por trás da indústria da desinformação, que atua de forma sistemática para manipular o público. “Eles bombardearam o espaço informacional. Muitas pessoas, sem formação adequada, acabam sendo arrastadas por essa onda”, lamenta.
Educar para a mídia
Segundo Silvia Dal Ben, uma das principais frentes de ação deve ser a alfabetização midiática, ensinando o público a reconhecer conteúdos confiáveis e a distinguir entre jornalismo e manipulação. Ela também destaca a importância de estratégias eficientes de distribuição, considerando a tendência global de evitar notícias.
O pesquisador Josenildo Guerra, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), concorda. Para ele, é urgente desenvolver produtos jornalísticos que combinem qualidade informativa com narrativas atrativas. “As fake news oferecem conteúdos truncados e apelativos, que são facilmente consumidos. Precisamos de mais pesquisa e inovação para criar conteúdos que rivalizem com isso sem abrir mão da responsabilidade”, aponta.
A força do jornalismo
Para Samira Castro, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o jornalismo profissional possui uma vantagem fundamental: o compromisso com a verdade, a escuta plural e a responsabilidade com o interesse público.
Ela acredita que a confiança do público pode ser conquistada quando o jornalismo se mostra capaz de traduzir assuntos complexos com clareza, rigor e sensibilidade. “É essa confiança que pode silenciar o ruído das mentiras. A credibilidade, construída com ética e consistência, é o nosso maior trunfo nesse duelo”, conclui.
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