Saúde • 09:15h • 01 de dezembro de 2025
Dez anos de pesquisa: como o Instituto Butantan desenvolveu sua vacina contra a dengue
Vacina recém-aprovada começou a ser desenvolvida em 2009, quando o Brasil ultrapassava 1 milhão de casos de dengue; estudo clínico reuniu mais de 16 mil voluntários
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Arquivo Âncora1
A Butantan-DV, vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan e recentemente aprovada pela Anvisa, é resultado do trabalho de mais de 200 cientistas e colaboradores. A jornada começou em 2009, quando o Brasil enfrentava recordes da doença, com 1 milhão de casos prováveis e quase 900 mortes, consolidando a dengue como um grave problema de saúde pública.
Nesse cenário, o Instituto Butantan firmou parceria com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos Estados Unidos. Por meio dessa colaboração, o NIH cedeu quatro cepas atenuadas do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), que serviram de base para o desenvolvimento da primeira vacina brasileira contra a doença.
Formulações e fases 1 e 2 dos estudos
Com a formulação TV003, o NIH conduziu a fase 1 dos testes entre 2010 e 2012 com 113 voluntários sem contato prévio com o vírus. Após uma única dose, 90% produziram anticorpos, e o imunizante apresentou bom perfil de segurança.
No Brasil, o Butantan desenvolvia sua própria formulação sob liderança da pesquisadora Neuza Frazatti Gallina. Foram realizados 270 experimentos e 50 tentativas até chegar ao produto final. Como era necessário garantir concentrações iguais dos quatro sorotipos, cada cepa precisou ser estudada individualmente durante o processo produtivo.
Entre 2013 e 2015, com a formulação pronta e os resultados positivos dos EUA, o Butantan recebeu autorização da Anvisa para iniciar a fase 2, que envolveu 300 voluntários brasileiros. A vacina gerou forte resposta imune com apenas uma dose e se mostrou segura tanto para quem já havia tido dengue quanto para quem nunca tinha contraído o vírus.
A etapa decisiva: fase 3
Com a segurança e a imunogenicidade comprovadas, o estudo avançou para a fase 3 em 2016, com o objetivo de avaliar a eficácia da vacina em áreas com alta circulação do vírus. O Butantan criou uma rede com 16 centros de pesquisa em 14 estados e recrutou 16 mil voluntários entre 2 e 59 anos. Cada participante foi acompanhado por cinco anos para avaliar tanto a proteção quanto a segurança do imunizante no longo prazo.
Os primeiros resultados, divulgados em janeiro de 2024, mostraram eficácia geral de 79,6%. Entre pessoas que já tinham anticorpos para dengue, a proteção chegou a 89,2%; entre quem nunca havia tido contato com o vírus, ficou em 73,6%. Em agosto, um novo estudo apontou eficácia de 89% contra casos graves ou com sinais de alarme, mantendo também um bom perfil de segurança.
Registro e aprovação
Com os dados completos em mãos, o Butantan solicitou o registro da vacina em dezembro de 2024. A aprovação pela Anvisa, anunciada em 26 de novembro de 2025, considerou os cinco anos de acompanhamento dos voluntários. Para pessoas de 12 a 59 anos, a eficácia geral foi de 74,7%, chegando a 91,6% contra formas graves.
A expectativa é que a Butantan-DV seja incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e disponibilizada no SUS a partir de 2026.
O contexto da doença no país
A aprovação ocorre após a maior epidemia de dengue da história do Brasil: em 2024 foram registrados 6,5 milhões de casos prováveis, quadruplicando os números de 2023. Em 2025, até novembro, já havia 1,6 milhão de casos notificados.
A dengue circula no Brasil desde a década de 1980, quando ocorreu a primeira epidemia em Boa Vista (RR). O mosquito Aedes aegypti se espalhou pelo país devido ao clima quente e úmido e ao crescimento urbano. Entre 2000 e 2024, foram registrados 24 milhões de casos prováveis e 16 mil mortes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, metade da população mundial vive sob risco de contrair dengue. A estimativa é de 100 milhões a 400 milhões de novos casos todos os anos. Embora muitas infecções sejam assintomáticas, a forma grave pode causar hemorragias e levar à morte sem tratamento adequado.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo