Saúde • 13:33h • 27 de outubro de 2025
Covid-19 deixou 149 mil crianças e adolescentes órfãos em 2020 e 2021
Se considerados avós e outros cuidadores, número sobe para 280 mil
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Altemar Alcantara/Semcom/Prefeitura de Manaus
Mais de 700 mil brasileiros morreram de covid-19. Além dessa tragédia direta, um novo estudo indica outra consequência grave da pandemia: 284 mil crianças e adolescentes ficaram órfãos ou perderam cuidadores que exerciam papel fundamental em casa. As estimativas se referem apenas a 2020 e 2021.
Desse total, 149 mil perderam pai, mãe ou ambos. Os dados foram produzidos por pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos para mostrar a dimensão da orfandade e as desigualdades entre os estados.
A professora Lorena Barberia, da USP, explica que muitos idosos mortos pela doença eram fundamentais na estrutura familiar. “Precisamos olhar também para quem dependia dessas pessoas”, afirma.
Principais resultados da pesquisa
- 1,3 milhão de crianças e adolescentes (0 a 17 anos) perderam pai, mãe ou cuidador por diversas causas no período;
- 284 mil tiveram essa perda especificamente por covid-19;
- Entre essas, 149 mil ficaram órfãs de pai, mãe ou ambos, e 135 mil perderam outro cuidador familiar;
- 70,5% perderam o pai; 29,4% a mãe; 160 tiveram orfandade dupla;
- A cada 1 mil crianças, 2,8 perderam um responsável por covid-19;
- Estados com maiores taxas: Mato Grosso (4,4 por mil), Rondônia (4,3) e Mato Grosso do Sul (3,8);
- Menores taxas: Rio Grande do Norte (2,0), Santa Catarina (1,6) e Pará (1,4).
A dor por trás dos números
Os dados representam histórias reais. É o caso de Bento, hoje com 8 anos, que perdeu o pai em 2021. Sem comorbidades, Cláudio da Silva foi infectado em uma viagem de trabalho e morreu aos 45 anos poucos dias após a internação. A mãe, Ana Lúcia Lopes, conta que o filho precisou de acompanhamento psicológico depois de demonstrar sofrimento pela perda.
O pai contribuía para a Previdência como microempreendedor individual, garantindo à criança pensão e evitando problemas financeiros — algo que não se repete em todos os casos.
Vulnerabilidade e violações de direitos
A promotora Andréa Santos Souza, de Campinas (SP), percebeu um aumento de pedidos de guarda durante a pandemia e passou a identificar crianças órfãs nos registros de óbito.
Com os casos, surgiram riscos como:
- separação de irmãos
- adoções ilegais
- trabalho doméstico forçado
- casamento infantil
- abuso sexual
- envolvimento com tráfico ou trabalho infantil
Ela destaca que os órfãos, em sua maioria, são filhos de trabalhadores essenciais e informais, mais expostos ao vírus e às desigualdades sociais.
Avanços no cruzamento de dados
Uma particularidade do Brasil ajudou na análise: desde 2015, o CPF é emitido junto com a certidão de nascimento. Isso permitiu cruzar informações e identificar crianças que perderam pais para a covid-19.
Registros civis apontam que 12,2 mil crianças de até 6 anos ficaram órfãs entre março de 2020 e setembro de 2021 — número que reforça as estimativas dos pesquisadores, embora não cubra todas as faixas etárias.
Falta de políticas específicas
Para Lorena Barberia, o país ainda não oferece suporte adequado a esse novo grupo de vulneráveis:
“Mesmo após o fim da fase mais crítica, precisamos de políticas públicas para reduzir desigualdades. A sociedade não estava preparada para essa magnitude de órfãos.”
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