Saúde • 09:22h • 08 de outubro de 2025
Clima extremo aumenta risco de morte infantil no Brasil, aponta estudo inédito
Pesquisa liderada por cientistas da Fiocruz Bahia e da UFBA revela que bebês e crianças pequenas estão mais vulneráveis às variações de temperatura. O risco de mortalidade chega a ser até 364% maior em dias de frio intenso
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da Fiocruz | Foto: Arquivo Âncora1

Um estudo internacional pioneiro realizado no Brasil mostrou que o clima tem influência direta sobre a mortalidade infantil e que a vulnerabilidade das crianças varia conforme a idade. A pesquisa analisou mais de 1 milhão de mortes de menores de 5 anos ao longo de 20 anos e revelou que bebês entre 7 e 27 dias de vida são os mais afetados pelo frio — com risco 364% maior de morrer em condições extremas. Já o calor impacta mais as crianças entre 1 e 4 anos, elevando o risco em 85%.
Os resultados indicam que, em média, o risco de mortalidade infantil aumenta 95% no frio extremo e 29% no calor extremo, em comparação com dias de temperatura amena. As variações também diferem entre as regiões do país, de acordo com o estudo publicado no periódico Environmental Research.
A pesquisa foi conduzida por cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, da London School e do Instituto de Saúde Global de Barcelona. Segundo o líder do estudo, Ismael Silveira, o Brasil oferece um cenário único para esse tipo de investigação.
“O país tem dimensões continentais e grande desigualdade socioeconômica, o que o torna um laboratório natural para estudar os impactos do clima”, explica o pesquisador.
Vulnerabilidade e efeitos do clima
Crianças pequenas são mais suscetíveis às mudanças bruscas de temperatura porque ainda não possuem mecanismos corporais completos de regulação térmica. Isso as torna menos capazes de se adaptar ao calor e ao frio.
Nos dias mais quentes, os riscos vão além do desconforto — incluem desidratação, insolação e doenças respiratórias. Já o frio intenso pode causar hipotermia, complicações metabólicas e aumento de infecções.
“Observamos que tanto o calor quanto o frio aumentam a mortalidade por doenças infecciosas, especialmente por diarreia”, destaca Ismael.
Diferenças regionais
A análise considerou dados de mortalidade infantil de todos os 5.570 municípios brasileiros entre 2000 e 2019, cruzados com informações diárias de temperatura. O estudo identificou que o Sul do país teve maior risco de mortes associadas ao frio (117%), enquanto o Nordeste apresentou maior vulnerabilidade ao calor (102%).
As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste continuam concentrando as maiores taxas de mortalidade infantil, reflexo das desigualdades de infraestrutura, moradia e saneamento. “Essas áreas enfrentam vulnerabilidade socioeconômica acentuada, o que agrava os efeitos das mudanças climáticas”, afirma o pesquisador.
Impactos para as políticas públicas
Apesar da redução global da mortalidade infantil nas últimas décadas, as mudanças climáticas podem frear esse avanço. O Unicef aponta que, no mundo, a taxa de mortalidade de menores de cinco anos caiu 61% desde 1990 — mas o aquecimento global ameaça reverter parte desse progresso.
“A mortalidade infantil é um indicador sensível das vulnerabilidades climáticas do país”, ressalta Ismael. “Nossos achados mostram que o clima já tem um impacto mensurável na saúde das crianças e reforçam a urgência de políticas de adaptação às mudanças climáticas.”
O estudo defende o fortalecimento do monitoramento climático e epidemiológico como estratégia essencial para proteger as próximas gerações.
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