Cultura e Entretenimento • 10:28h • 05 de março de 2025
Carnaval: Patrimônio Cultural espaço de resistência e identidade popular
Mais do que festa, para os fazedores de cultura, carnaval é sinônimo de identidade, economia criativa e expressão da cultura popular brasileira
Da Redação com informações de Agência Gov | Foto: Arquivo pessoal

Para o mestre de bateria Armando Guerra, conhecido como Mestre Juca, o Carnaval é mais do que uma festa: é uma vida inteira dedicada à música e à comunidade. “Isso aqui é minha vida. São 46 anos de trabalho, sempre tentando fazer o melhor pela escola. Eu costumo dizer que aqui é minha primeira casa. A cada ano, a emoção só aumenta e a expectativa é sempre a melhor”, conta o percussionista da Águia de Ouro, escola de samba de São Paulo.
O Carnaval é uma celebração marcada pela diversidade de ritmos, cores e expressões culturais. Marchinhas, samba, frevo, axé, maracatu e muitos outros estilos compõem a festa, que acontece nas ruas, nos desfiles das escolas de samba, nos blocos e trios elétricos, atraindo multidões e turistas do mundo todo. Esse conjunto de manifestações foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial.
O Papel da Comunidade no Carnaval
Dentro das escolas de samba, a força da comunidade é o que torna o Carnaval tão grandioso. “Nossa comunidade é muito leal, é considerada a que mais canta na avenida. É um povo apaixonado, sempre presente e atuante”, enfatiza Mestre Juca, que há 34 anos está à frente da bateria da Águia de Ouro. Para ele, a bateria vai além da percussão: “É uma verdadeira orquestra rítmica, onde criamos tudo. Fazemos coisas que até maestro duvida!”, diz.
A mesma conexão com o samba é sentida por Parcio Anselmo, ritmista e músico da Águia de Ouro. Aos 46 anos, ele relembra como sua trajetória começou ainda na infância, dentro de uma tradição familiar. “Minha mãe era passista, meu pai era ritmista da bateria, e nós três, os filhos, desfilamos por anos na escola Camisa Verde e Branco”, conta.
Parcio passou por diversos setores dentro do samba, da bateria mirim ao posto de mestre-sala juvenil, além de atuar na direção de harmonia e na ala de compositores. Para ele, o Carnaval representa ancestralidade, resistência e transformação. “A música muda vidas. O samba, em especial, é meu lugar de história e de cultura ancestral. Recentemente, perdemos o Carlão do Peruche, considerado o último griô, um verdadeiro guardião da memória do samba”, destaca.
Carnaval: Um Espaço de Resistência e Reafirmação
O Carnaval é mais do que uma festa; é um símbolo da identidade brasileira, celebrando diversidade, criatividade e resistência. “É um momento onde vozes de diferentes culturas se entrelaçam, revelando a riqueza da nossa história e a força da nossa comunidade. No Carnaval, o povo se une em alegria, transformando as ruas em um palco de liberdade e autenticidade, onde cada batida de tambor e cada passo de dança ecoam as singularidades do Brasil”, afirma Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural.
As escolas de samba sempre foram espaços de resistência cultural e política. Segundo Tadeu Augusto Matheus, sambista, sociólogo e pesquisador, esses espaços funcionam comonichos de sociabilidade e preservação da cultura afro-brasileira. “Assim como os clubes negros, os terreiros e os grupos de capoeira, as escolas de samba são espaços de socialização e resgate cultural. Em seu sentido mais profundo, elas representam locais de preservação da vida, do afeto e da reumanização”, explica.
Além da relevância cultural e social, o Carnaval também tem um impacto econômico significativo. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, a festa movimenta uma cadeia produtiva que gera mais de R$ 3,5 bilhões, sendo um dos maiores PIBs culturais da América Latina e responsável por milhares de empregos diretos e indiretos.
As Origens do Carnaval no Brasil
Embora tenha raízes na Europa, o Carnaval adquiriu no Brasil características próprias, fortemente influenciadas pela cultura africana. Segundo Tadeu Matheus, a diáspora africana teve um papel essencial na preservação das manifestações culturais no país. “O legado da diáspora africana foi fundamental para que o Carnaval no Brasil se tornasse algo único, carregado de riqueza e conhecimento vindos das culturas e tradições africanas”, afirma.
No passado, as manifestações carnavalescas eram atos de reivindicação. A população negra lutava pelo direito à cidade e pelo reconhecimento de suas expressões culturais. “Ocupar o espaço público sempre foi, e ainda é, uma resposta ao projeto eugenista que, na década de 1930, buscava apagar os traços físicos e culturais da população negra. As escolas de samba e os blocos afros assumiram o papel de resgatar memórias e contar histórias que muitas vezes foram deixadas de lado pela narrativa oficial”, conclui o pesquisador.
O Carnaval, portanto, vai muito além da festa. Ele é um símbolo de resistência, um reflexo da identidade brasileira e uma celebração da cultura popular que continua a se reinventar a cada ano.
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