Responsabilidade Social • 20:43h • 27 de novembro de 2025
Caminhoneiros estão mais conscientes e denunciam mais casos de exploração nas estradas do Brasil
Série histórica de 20 anos, lançada em 25 de novembro, mostra redução significativa na autodeclaração de envolvimento e maior percepção de riscos nas rodovias
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
A Childhood Brasil lançou na terça-feira, 25 de novembro, a 5ª edição da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e consolidada como uma das mais importantes séries históricas sobre condições de vida, trabalho e percepções da categoria. O estudo também monitora indicadores relacionados à exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA), tema que motivou a criação do Programa Na Mão Certa, lançado em 2005.
Com 20 anos de acompanhamento contínuo, a pesquisa revela avanços relevantes na conscientização dos motoristas profissionais, especialmente no reconhecimento da ESCA como violação grave e na redução da autodeclaração de envolvimento com práticas ilícitas. Os dados também reforçam desafios estruturais da profissão, como precarização, infraestrutura inadequada e estigma social persistente.
De acordo com Eva Dengler, Superintendente de Programas da Childhood Brasil, compreender a realidade dos caminhoneiros é essencial para direcionar políticas e estratégias. “O conceito do trabalho é simples, um caminhoneiro que está sendo cuidado e valorizado pode ser convidado a proteger os direitos humanos de crianças e adolescentes”, afirma.
Dados da pesquisa
A série histórica aponta que o perfil médio do caminhoneiro segue estável, composto majoritariamente por homens de cerca de 45 anos e com 17 anos de profissão. Mesmo com a recuperação da renda nominal para R$ 6.000 em 2025, após queda em 2021, o poder de compra ainda é menor do que o registrado em 2010. A categoria enfrenta situações críticas no cotidiano das estradas, como insegurança e violência para 73,8% dos entrevistados, má qualidade das vias para 66,9% e longos períodos longe da família, citados por 57% dos participantes.
As condições dos pontos de parada permanecem como um dos principais gargalos. Segundo os dados, 80% apontam falta de banheiros limpos, 70% reclamam da ausência de comida de qualidade, 63,5% mencionam a falta de alimentação acessível e 50,7% relatam carência de atendimento médico ou odontológico. Entre caminhoneiras, a situação dos banheiros é considerada “o pior aspecto da profissão”.
Outro dado relevante é que 86% dos caminhoneiros afirmam que a profissão é mal vista pela sociedade, percepção que impacta a autoestima do grupo e a atratividade da carreira. O estigma, segundo o levantamento, permanece como um dos fatores que dificultam a renovação da mão de obra no setor.
No eixo de exploração sexual, os resultados desta edição mostram mudanças expressivas. Em 2025, 96% dos entrevistados afirmaram não ter tido relações sexuais com crianças ou adolescentes nos últimos cinco anos, número muito superior aos 63% da edição inaugural, em 2005. A taxa de autodeclaração caiu para 4%, resultado que já chegou a 36,8% duas décadas atrás.
Paralelamente, 78% reconhecem a ESCA como problema ainda presente nas estradas, e 54% afirmam que é comum ver meninas exploradas sexualmente. Já 43% relatam testemunhar casos envolvendo meninos, aumento em relação aos 32% registrados em 2021. As regiões Norte e Nordeste seguem como locais com maior relato de situações de risco.
O contato direto com ofertas de programas sexuais envolvendo crianças e adolescentes também foi registrado por 13,5% dos caminhoneiros. Além disso, 9% presenciaram exploração envolvendo crianças e 11,5% envolvendo adolescentes. A frequência de motoristas que viram colegas dando carona a menores caiu para 3,8% nos últimos cinco anos.
As crenças e percepções também foram avaliadas. Segundo o levantamento, 77,3% apoiam a redução da maioridade penal, 59,4% a pena de morte e 58,9% o direito ao porte de arma. Cerca de 10% ainda acreditam que crianças e adolescentes “gostam de sexo”, e 21% afirmam não enxergar a prática como crime, o que evidencia desafios persistentes de compreensão e responsabilização.
Os ambientes digitais surgem como nova área de alerta. Segundo a pesquisa, 9,5% dos motoristas receberam ofertas sexuais envolvendo menores por canais digitais e 7,7% afirmaram ter tido contato com material sexual envolvendo crianças e adolescentes em grupos e plataformas sem filtragem adequada.
Programa Na Mão Certa
O estudo também mostra que caminhoneiros que conhecem o Programa Na Mão Certa apresentam maior sensibilidade sobre questões de gênero e exploração. A concordância com a frase “as mulheres devem obedecer aos homens” caiu para 11% entre os que conhecem o Programa, ante 25% entre os que não conhecem.
Com 620 participantes, o levantamento de 2025 também ampliou recortes em rotas do agronegócio e áreas portuárias, o que, segundo a Childhood Brasil, permitirá estratégias mais customizadas. “A união de esforços para erradicar a ESCA só é possível quando baseada em evidências, e nossa pesquisa tem contribuído de forma contínua para demonstrar os impactos positivos já alcançados, ao mesmo tempo em que lança luz sobre desafios, tanto novos quanto persistentes, que ainda precisamos superar”, reforça Eva Dengler.
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