Saúde • 10:43h • 21 de setembro de 2024
Butantan: entenda por que medicamentos biossimilares são eficazes para tratar doenças
Biossimilares são medicamentos biológicos já existentes com a proteção intelectual (patente) expirada, permitindo que outras empresas desenvolvam um remédio equivalente
Agência SP | Foto: Divulgação Butantan
Recentemente, o Instituto Butantan e a farmacêutica Sandoz do Brasil deram início ao processo de transferência de tecnologia do medicamento adalimumabe (contém biossimilares), um anticorpo monoclonal recomendado para doenças inflamatórias crônicas autoimunes, como artrite reumatoide e psoríase, e do trato gastrointestinal, como doença de Crohn e colite. Em 2022, foram entregues 400 mil unidades do fármaco ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2023, já dentro da parceria para a transferência tecnológica, foram encaminhados cerca de 500 mil medicamentos.
O adalimumabe da Sandoz é um biossimilar, conhecido pelo nome comercial ‘Hyrimoz’, que foi aprovado em 2020 no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele possui as mesmas indicações do remédio de referência, Humira, e foi aprovado em 2018 nos Estados Unidos, pela Food and Drug Administration (FDA), e na Europa, pela European Medicines Agency (EMA). Juntas, as agências já registraram mais de 100 biossimilares.
Mas, afinal, o que é um biossimilar?
Os biossimilares nada mais são do que fármacos semelhantes a um medicamento biológico já existente que teve a proteção intelectual (patente) expirada, permitindo que outras empresas desenvolvam um remédio equivalente. Segundo a Anvisa, responsável por conceder a autorização de uso para biossimilares no Brasil, a estratégia reduz custos e amplia a acessibilidade a tratamentos inovadores.
Assim como qualquer outro medicamento, antes de ser aprovado pelo órgão regulatório, este tipo de produto passa por rigorosos testes de qualidade, pré-clínicos e clínicos. O objetivo da avaliação minuciosa é comprovar sua similaridade com o fármaco de referência.
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo, publicada no JAMA Network Open, analisou 25 ensaios clínicos com dados de 10 mil pacientes com artrite reumatoide e mostrou que aqueles que usaram biossimilares tiveram respostas clínicas equivalentes às observadas em quem usou medicamentos originais. Outro estudo, publicado na revista Frontiers in Immunology por cientistas da Universidade do Sul da China, analisou os dados clínicos de sete biossimilares de adalimumabe, entre eles o Hyrimoz, e todos demonstraram eficácia, segurança e imunogenicidade comparáveis ao produto de referência.
Instalações da fábrica de Produção de Anticorpos Monoclonais (PAM) do Butantan. Foto: Marília Ruberti/Comunicação Butantan
Medicamentos biológicos e biossimilares
Os primeiros medicamentos biológicos surgiram na década de 1980. Os biossimilares, por sua vez, começaram a surgir a partir de 2010 – foi por volta deste ano que as patentes dos primeiros medicamentos biológicos expiraram (por norma internacional, a exclusividade de uma patente dura 20 anos).
Tanto medicamentos biológicos quanto biossimilares são fabricados usando organismos vivos, podendo ser derivados de plantas, animais, bactérias e seres humanos. Alguns exemplos desse tipo de produto são os anticorpos monoclonais, os hormônios, como insulina e hormônio do crescimento, e a heparina, que age como anticoagulante.
Esses remédios são usados para tratar um conjunto de enfermidades, como doenças inflamatórias crônicas autoimunes, doenças intestinais crônicas, diabetes, doença renal, esclerose múltipla, embolia pulmonar e alguns tipos de câncer, como de mama, pulmão e cólon.
Qual a diferença entre genérico e biossimilar?
Os genéricos são constituídos por pequenas moléculas sintetizadas quimicamente, ou seja, são idênticos ao fármaco de referência. Segundo o Ministério da Saúde, o genérico deve conter o mesmo princípio ativo, com dose, forma e via de administração iguais, e a mesma indicação terapêutica do medicamento original. Por se tratar de uma molécula sintética, que não varia ao longo do processo produtivo, é permitida a intercambialidade.
“A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência terapêutica, que incluem comparação in vitro, através dos estudos de equivalência farmacêutica, e in vivo, por meio dos estudos de bioequivalência apresentados à Anvisa”, informa o Ministério.
Já os biossimilares, de acordo com a FDA, são compostos por moléculas geralmente maiores e mais complexas, produzidas a partir de sistemas vivos, assim como os seus biológicos de referência. Por isso, existe a possibilidade de uma mínima variação natural dentro de um lote ou entre lotes (como pequenas diferenças na estrutura de proteínas, por exemplo). “Isso é verdade tanto para o biossimilar como para o produto original”, afirma a agência norte-americana.
Essas variações não têm impacto significativo na qualidade e segurança do produto devido ao seu criterioso processo de desenvolvimento e aprovação, de acordo com uma revisão publicada na Pharmaceuticals por pesquisadores da Universidade de Coimbra, de Portugal. Esse processo envolve análises detalhadas das características físicas, químicas e biológicas do medicamento, além de ensaios clínicos.
Para avaliar a substituição do biológico original pelo biossimilar, a Anvisa afirma que devem ser consideradas as especificidades e o estágio do tratamento do paciente, as características intrínsecas da resposta imune de cada indivíduo, e o acesso e o uso racional dos medicamentos. Assim, a intercambialidade deve ser feita sob avaliação médica.
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