Saúde • 15:32h • 14 de agosto de 2025
Brasil volta à lista dos 20 países com mais crianças sem vacina contra DTP
País está em 17º lugar na lista de nações com menos crianças vacinadas; no mundo, 14 milhões de meninos e meninas não receberam a primeira dose da vacina DTP em 2024
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações do Butantan | Foto: Butantan/Governo de SP

O Brasil voltou a figurar entre os 20 países com maior número de crianças não vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) em 2024, segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). O país ocupa o 17º lugar, com 229 mil crianças sem a primeira dose da chamada tríplice bacteriana.
No calendário nacional, a DTP é aplicada em três doses e dois reforços, sendo o primeiro aos dois meses de vida. Apesar do retorno à lista — da qual havia saído no ano passado —, a cobertura da primeira dose (DTP1) atingiu 91%, perto da meta de 95%, colocando o Brasil entre os países com melhores índices percentuais no mundo.
“É uma lista baseada em números absolutos, não em cobertura. Dois por cento pode parecer pouco, mas estamos falando de 229 mil crianças, o equivalente à população de cidades inteiras”, explica Érique Miranda, infectologista e gestor médico do Instituto Butantan.
Em 2024, o Butantan entregou 4 milhões de doses da versão acelular da DTP ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), distribuídas gratuitamente nos postos de saúde. A OMS considera a primeira dose um marcador de acesso aos serviços de imunização: quem não a recebe é classificado como “zero dose”, ou seja, não vacinado.
O Brasil já havia deixado a lista em 2023, quando reduziu para 103 mil o número de crianças sem vacinar — bem menos que as 418 mil de 2022. Em 2025, dados do Ministério da Saúde mostram aumento na cobertura de 15 das 16 vacinas do calendário nacional no primeiro quadrimestre, incluindo o primeiro reforço da DTP, que passou de 74,49% para 81,97%, ainda abaixo da meta.
“Houve queda nas coberturas desde a pandemia, mas a tendência, pelos dados recentes, é voltarmos a sair dessa lista”, avalia Miranda.
Contexto global
Em 2024, 20 milhões de crianças no mundo permaneceram não vacinadas ou com vacinas atrasadas. Destas, 14,3 milhões não receberam nenhuma dose da DTP1, aumento em relação a 2019. Mais da metade das crianças “zero dose” vive em países com instabilidade social ou em guerra.
Nove países concentram mais de 50% dessas crianças: Nigéria, Índia, Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia, Indonésia, Iêmen, Afeganistão e Angola. A Nigéria lidera, com 2 milhões de não vacinados, seguida pela Índia, com quase 1 milhão.
O levantamento da Unicef considera números absolutos, o que favorece a presença de países populosos na lista. O Brasil, com 229 mil crianças sem vacinar, aparece ao lado da China.
Cobertura e risco de coqueluche
O relatório também analisou a cobertura da terceira dose (DTP3), usada como indicador da qualidade da imunização de rotina. Em 2024, a média global foi de 85%, abaixo da meta de 90%. Na América Latina e Caribe, a taxa foi de 82%.
No Brasil, a cobertura da DTP3 oscilou nos últimos anos: 86% (2020), 68% (2021), 77% (2022), 90% (2023) e 91% (2024). A queda durante a pandemia contribuiu para o aumento dos casos de coqueluche. Até maio de 2025, o país registrou 1.819 casos e seis mortes. Crianças menores de um ano foram as mais afetadas.
“A falta de reforços para adultos contribui para a transmissão. Hoje, só gestantes e profissionais de saúde recebem a dose extra. Ampliar essa proteção é fundamental”, alerta Miranda.
A coqueluche, causada pela bactéria Bordetella pertussis, é altamente transmissível e, por isso, a meta de vacinação é de 95%.
Desafios e prioridades
A OMS e o Unicef destacam que ampliar a cobertura vacinal exige superar obstáculos como conflitos armados, fragilidade institucional, falta de investimento, escassez de vacinas e surtos de doenças.
“É essencial priorizar países com grandes números absolutos de crianças não vacinadas, mas também garantir atenção às nações com baixas taxas de cobertura e menor número de nascimentos, onde a probabilidade de não imunização é maior”, conclui o Unicef.
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