Ciência e Tecnologia • 11:19h • 28 de dezembro de 2025
Biópsia líquida se consolida no diagnóstico de mutações no câncer de pulmão
Resultado do exame pode sair em dois dias; estudo do Hospital de Amor apoiado pela Fapesp contribui para aprimorar monitoramento da doença, mas custo alto ainda é uma barreira
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Arquivo Âncora1
A biópsia líquida pode se tornar uma aliada importante no diagnóstico mais rápido e na definição do tratamento do câncer de pulmão no Brasil. Um estudo apoiado pela Fapesp e publicado na revista Molecular Oncology mostrou que é possível identificar mutações genéticas relevantes a partir de exames de sangue em pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células, o tipo mais comum da doença. A pesquisa foi realizada no Hospital de Amor, em Barretos, e analisou o DNA tumoral circulante presente no sangue de diferentes grupos de pacientes, inclusive pessoas sem sintomas.
Esse tipo de câncer corresponde a cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão. Dentro dele, o adenocarcinoma é o subtipo mais frequente e também o que mais se beneficiou dos avanços da medicina genética. Nos últimos anos, a identificação de mutações específicas permitiu o uso de terapias-alvo, que aumentaram significativamente a sobrevida dos pacientes. Antes, a média não passava de oito meses; hoje, pode chegar a dois ou três anos e, em alguns casos, até dez anos.
Segundo a pesquisadora Letícia Ferro Leal, genes como EGFR, ALK e KRAS são importantes porque possuem mutações que podem ser tratadas com medicamentos específicos. Quando essas alterações são identificadas, o tratamento pode ser direcionado de forma mais eficaz.
O estudo analisou 32 amostras de plasma de 30 pacientes, a maioria ainda sem tratamento. Também participaram pacientes já tratados e pessoas incluídas em um programa de rastreamento. Foi utilizado um painel comercial capaz de detectar mutações em 11 genes associados ao adenocarcinoma. Em 65,6% das amostras foram encontradas mutações, percentual que chegou a 87,5% entre pacientes que já haviam passado por tratamento.
As mutações mais comuns foram nos genes TP53, KRAS e EGFR. Embora ainda não exista tratamento específico para TP53, as alterações em EGFR e em uma mutação específica de KRAS podem ser tratadas com medicamentos já disponíveis no Brasil. O estudo também identificou uma mutação associada à resistência ao tratamento, que costuma surgir ao longo da evolução da doença.
Um resultado que chamou atenção foi a detecção de uma mutação no gene TP53 em um participante assintomático, seis meses antes do diagnóstico do câncer. Isso indica que a biópsia líquida pode ajudar no rastreamento de pessoas com maior risco, como fumantes e ex-fumantes.
Na prática clínica, o principal benefício da biópsia líquida é a rapidez. Enquanto a análise do tecido tumoral pode levar semanas, o exame de sangue pode fornecer resultados em cerca de dois dias, permitindo que o tratamento comece mais cedo. Além disso, o estudo mostrou que o teste funciona mesmo com amostras congeladas, sem necessidade de coleta ou transporte especiais, o que facilita sua aplicação em hospitais públicos.
Apesar das vantagens, o custo ainda é um obstáculo. Cada teste custa em torno de R$ 6 mil, valor elevado para a maioria dos pacientes. No SUS, o acesso a testes moleculares e terapias-alvo ainda é limitado, o que gera desigualdade e, muitas vezes, judicialização para garantir o tratamento.
A pesquisadora destaca que a biópsia líquida não substitui totalmente a biópsia tradicional. Quando o exame de sangue não detecta mutações, é necessário confirmar com a análise do tecido. Ainda assim, os dois métodos podem ser usados de forma complementar.
Os pesquisadores concluem que a biópsia líquida tem grande potencial para acelerar diagnósticos, orientar melhor o tratamento e melhorar o prognóstico de pacientes com câncer de pulmão. Com a redução dos custos e a ampliação da oferta de testes, a expectativa é que essa tecnologia se torne mais acessível e ajude a ampliar o acesso à medicina personalizada no Brasil.
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