Variedades • 20:19h • 17 de novembro de 2025
Bed rotting, o fenômeno que expõe o esgotamento silencioso das novas gerações
Especialista alerta para os impactos biológicos, emocionais e sociais do hábito de passar longos períodos deitado usando telas, comportamento que pode evoluir para riscos graves de saúde
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da VH Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
O fenômeno conhecido como bed rotting, prática em que jovens permanecem deitados por horas usando telas de forma passiva, tem preocupado especialistas. O médico e terapeuta João Borzino explica que esse comportamento, marcado por imobilidade prolongada e consumo digital contínuo, afeta o funcionamento do corpo, da mente e da vida social, revelando sinais de esgotamento que ultrapassam modismos da internet.
Uma prática que vai muito além de um “dia de descanso”
Bed rotting descreve longos períodos na cama sem dormir, consumindo vídeos, séries, redes sociais e evitando interações presenciais. Borzino observa que a prática lembra condições como clinofilia — associada a quadros psiquiátricos — e os padrões da procrastinação para dormir, em que o uso de telas adia o descanso com a justificativa de “tempo para si”.
Ao analisar o fenômeno sob a perspectiva biopsicossocial, o médico destaca que o corpo, a psique e as relações sociais são afetados simultaneamente. A imobilidade contínua prejudica músculos, articulações e densidade óssea, especialmente entre adolescentes. Alterações no ciclo sono-vigília, risco para doenças metabólicas, desequilíbrios hormonais e prejuízo cognitivo completam o quadro.

No campo emocional, surgem sintomas compatíveis com depressão, ansiedade, fuga social e dependência digital. A sensação de “apagamento” do mundo real cria um ciclo de isolamento e perda de motivação.
Os efeitos sociais e culturais do isolamento na cama
O especialista aponta que o comportamento também reforça a solidão, fragiliza vínculos e alimenta a alienação digital. Relações reais são substituídas por interações mediadas por tela, enquanto o corpo perde sua presença no ambiente físico.
Borzino destaca ainda o papel da cultura da produtividade, que leva muitos jovens à exaustão. O bed rotting, nesse contexto, se torna resposta ao cansaço extremo, mas acaba reforçando o esvaziamento emocional.
Por que esse fenômeno cresce entre adolescentes e jovens adultos
Entre os fatores que impulsionam o bed rotting estão hiperestimulação constante, burnout precoce, incertezas existenciais, afastamento da natureza e enfraquecimento das redes sociais presenciais. O especialista alerta para o risco de que novas gerações se afastem cada vez mais de vivências corporais e da vida comunitária.
Embora o tema ainda não conte com estudos clínicos específicos, relatos em redes sociais e fóruns indicam que a prática pode se tornar crônica e impactar o funcionamento diário, levando a internações e agravando condições psiquiátricas já existentes.
Sinais de alerta que indicam evolução para risco real
Entre os indícios citados pelo médico estão:
- horas prolongadas na cama com culpa ao levantar;
- perda de distinção entre cama e atividades de vigília;
- insônia persistente ou inversão do sono;
- negligência de higiene, alimentação e relações;
- apatia, lentidão mental e isolamento crescente;
- uso de telas como fuga emocional;
- queixas corporais sem causa física aparente;
- pensamentos negativos e histórico de transtornos mentais.
A responsabilidade compartilhada para interromper o ciclo
Borzino defende que pais, professores, profissionais de saúde, jovens e formuladores de políticas públicas precisam agir. Isso envolve atenção aos primeiros sinais, acolhimento, orientação clínica quando necessário e oferta de espaços que devolvam presença física, convivência social e experiências fora do ambiente digital.
Segundo o especialista, o fenômeno simboliza um choque entre o corpo humano e a lógica das telas. Ele ressalta que, sem mudanças culturais e educacionais, a geração atual pode se afastar do próprio corpo e do mundo real.
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