Economia • 17:13h • 29 de julho de 2025
Atenção, comerciantes de Assis: apostas esportivas estão mudando hábitos dos clientes
Levantamentos mostram que apostadores estão reduzindo frequência em estabelecimentos e queda de desempenho entre funcionários preocupa empresários
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Abrasel | Foto: Divulgação
O avanço das apostas esportivas no Brasil tem gerado impactos silenciosos, porém crescentes, sobre o setor de bares e restaurantes, incluindo em cidades como Assis e todas do interior paulista. Além da queda no consumo presencial, empresários relatam prejuízos na produtividade de funcionários afetados emocional e financeiramente por perdas em plataformas de apostas online.
De acordo com dados da ABMES, o número de apostadores que já deixaram de frequentar bares e restaurantes aumentou de 24,8% para 28,5% entre 2024 e 2025. A regulamentação das casas de aposta, iniciada em janeiro deste ano, impulsionou o acesso a essas plataformas, que em maio já ocupavam a segunda posição em número de acessos no país, atrás apenas do Google, segundo levantamento da SimilarWeb.
O cenário é ainda mais preocupante quando se observa que o perfil dos apostadores coincide com a principal faixa etária da mão de obra do setor: jovens entre 21 e 35 anos, com renda média de R$ 2.227,00, segundo a PNAD. Empresários relatam queda de desempenho, absenteísmo e até casos extremos, como o registrado por Roberto Franco* nome fictício, dono de restaurante em Fortaleza. “Esse funcionário perdeu todo o salário em apostas online. Para alimentar a família, ele passou a furtar alimentos do estoque. Quando vimos nas câmeras, fomos obrigados a demiti-lo por justa causa”, relata.
Segundo a Abrasel, 90% dos empresários afirmam ter dificuldades para contratar. Além da escassez de profissionais qualificados (64%), 61% apontam falta de interesse nas vagas como um obstáculo. Parte desse desinteresse pode estar relacionada à crença ilusória de enriquecimento rápido propagada pelas bets, desestimulando jovens a buscar estabilidade profissional e formação técnica.
A pesquisa da ABMES revela ainda que 37% dos apostadores estão na classe C e 12% na classe DE. Isso demonstra que quase metade das pessoas que jogam com frequência pertence a grupos com menor renda, tornando-se mais vulneráveis aos prejuízos das perdas. Apesar da imagem glamourosa vendida por influenciadores digitais, a lógica de funcionamento dessas plataformas concentra os ganhos nas empresas, enquanto alimenta comportamentos compulsivos em jogadores.
Para o psicólogo Paulo Jelihovschi, líder de Gentes e Jornadas da Abrasel, as apostas podem se tornar um gatilho para distúrbios mentais graves. “A pessoa saturada mentalmente pelos jogos não consegue desenvolver as tarefas do cotidiano, não consegue manter a atenção e passa a viver em um estado de exaustão e dependência”, alerta. O vício em jogos de azar, também conhecido como ludopatia, é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença, e atinge, segundo a Unifesp, 10,9 milhões de brasileiros em nível de risco.
Diante desse cenário, a regulamentação e o uso responsável das apostas digitais passam a ser temas urgentes, que vão além do campo do entretenimento. É necessário considerar os reflexos sociais e econômicos da atividade, principalmente sobre os pequenos negócios, os vínculos de trabalho e a saúde mental da população.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo
Ciência e Tecnologia
Nova anomalia no 3I/ATLAS levanta hipótese inédita de mecanismo artificial no espaço