Variedades • 17:04h • 12 de junho de 2025
Afeto ou algoritmo? A nova geração de vínculos digitais com inteligência artificial
Rafael Irio alerta para os vínculos emocionais com inteligências artificiais e defende o letramento em IA como pilar da formação cidadã
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com contribuições de Rafael irio | Foto: Arquivo/Âncora1
Em 2013, o cinema vislumbrou um futuro próximo com o filme Ela, em que um homem solitário se apaixona por um sistema operacional. Doze anos depois, essa realidade deixou o campo da ficção e passou a integrar o cotidiano de milhares de jovens. Aplicativos como Replika, Eva AI, Nomi e MyAnima oferecem “companheiros” virtuais que simulam conversas, empatia e até relações amorosas. A presença constante e previsível desses sistemas tem provocado reflexões profundas sobre o papel da inteligência artificial nos afetos humanos.
Rafael Irio, autor, pesquisador e especialista em Inteligência Artificial aplicada à educação, analisa com seriedade esse fenômeno. Para ele, o avanço das IAs interativas expõe não só o poder da tecnologia, mas também o enfraquecimento de vínculos humanos em um mundo cada vez mais solitário. “O que parece conexão pode se tornar dependência, e o conforto da previsibilidade algorítmica pode atrofiar habilidades sociais reais”, destaca.
A ilusão da empatia artificial
O crescimento do uso desses aplicativos está diretamente ligado à busca por acolhimento em tempos de ansiedade social e fragilidade emocional. Com visual e voz personalizáveis, essas IAs criam um ambiente de atenção incondicional, mas apenas na aparência. Por trás das respostas calorosas, há apenas sistemas estatísticos que reorganizam dados e padrões linguísticos.

Quando o afeto é programado: por que é urgente discutir vínculos com inteligências artificiais
“Máquinas não sentem. O que parece presença é apenas disponibilidade programada”, reforça Irio. Nesse contexto, ele defende o letramento em IA como ferramenta essencial para a autonomia dos indivíduos, principalmente das novas gerações. Entender como a tecnologia funciona é o primeiro passo para usá-la com consciência.
Quatro pilares do letramento em IA
Para Irio, a formação crítica deve envolver quatro pilares fundamentais:
- Conhecimento técnico: desmistifica o funcionamento da IA, mostrando que suas respostas são cálculos estatísticos, e não empatia real.
- Compreensão prática: ajuda a identificar onde a IA pode ser útil, como em resumos de texto e onde falha, como em decisões morais ou interpretações emocionais.
- Entendimento ético: revela as intenções comerciais por trás dos aplicativos, que capturam dados e influenciam comportamentos.
- Pensamento crítico: promove uma reflexão mais ampla sobre o impacto dessas interações nas relações humanas.
Educação e família: base para relações conscientes
Na escola, a proposta de Irio é que o letramento em IA seja incorporado ao currículo. Oficinas de cidadania digital, projetos sobre algoritmos e espaços de debate são formas de preparar crianças e adolescentes para lidar com essas ferramentas de forma responsável.
Ele também ressalta a importância das famílias nesse processo. “Nenhuma educação digital será eficaz sem diálogo em casa”, afirma. Conversas francas sobre tecnologia, limites e riscos são fundamentais para que os jovens aprendam a distinguir companhia digital de conexão humana real.
O risco da ilusão e a urgência da regulação
Rafael Irio alerta ainda para a ausência de políticas regulatórias. Falta transparência sobre como os dados são usados, quem responde por danos emocionais e quais são os limites éticos do uso de IA em campos como o apoio emocional.
Embora reconheça o potencial da IA em ambientes educacionais e profissionais como tutores virtuais e assistentes para redução de ansiedade, Irio reforça: a tecnologia deve ser tratada como ferramenta, não como relação. Quando passa a ocupar o lugar do vínculo humano, aproxima-se da ilusão.
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